Aborto: as mentiras que nos contam

Aborto é pena de morte sem formação de culpa. Um verdadeiro holocausto silencioso.

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Anos atrás, um vídeo em que atores e atrizes de uma grande emissora de TV promoviam o aborto causou polêmica, especialmente nas redes sociais. Principalmente por dois motivos: pela defesa do abordo, em si, e pela péssima utilização de argumentos bíblicos distorcidos. Os atores sugeriam que Maria não teria concebido Jesus sendo ainda virgem, e que essa história teria se originado de uma má tradução do texto hebraico para o grego. De uma hora para outra, atores de TV que dizem defender as crianças do Brasil por meio de campanhas, tornaram-se especialistas em línguas bíblicas e teologia. Não vou entrar em detalhes sobre esse absurdo. Quero focalizar aqui o aborto, já que novamente o assunto polêmico veio à tona, devido à decisão tomada pelas autoridades argentinas.

O artigo 2º do Código Civil brasileiro assegura os direitos do nascituro: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” Segundo Ives Gandra da Silva Martins, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, “seria ridícula a interpretação do dispositivo que se orientasse pela seguinte linha de raciocínio: Todos os direitos do nascituro estão assegurados, menos o direito à vida”!

Aborto é pena de morte sem formação de culpa. Um verdadeiro holocausto silencioso. A lógica é absurda: se não tem condições de criar a criança, mate-a. Se a mãe solicitar o “procedimento” (palavra mais branda para assassinato), aceite. Aborto é um direito? Mas quem defende o direito da criança? Em alguns casos, para corrigir nossos erros como sexo livre e libertinagem, matamos inocentes indefesos (e aqui não me refiro às exceções também previstas na lei brasileira).

Para que não se diga que minha discordância com o aborto generalizado está fundada em uma postura religiosa, quero citar aqui as palavras do meu ex-professor de jornalismo na UFSC, o Dr. Nilson Lage. Ele elencou seis pontos para reflexão:

“Pensando por estereótipos, é senso comum que opositores do aborto são religiosos reacionários. Mas pode não ser assim, como veremos.

“1. A primeira questão é se o aborto é ainda tão necessário quando é fácil impedir a gravidez, ou se, com mais informação, seria dispensável.

“2. A segunda é que o aborto inocenta o homem e castiga a mulher, já que toda cirurgia tem riscos e, muito repetida, gera danos permanentes.

“3. A terceira é se o custo (em dinheiro e danos à saúde) da aplicação em massa do aborto seria menor do que o custo das curetagens atuais.

“4. A quarta é, numa sociedade de consumo, ver anúncios de abortos ‘confortáveis’ em spas pagáveis em n prestações mensais.

“5. O quinto é o dano psicológico dos abortos, principalmente repetidos, e como minimizá-lo, evitando a perda de autoestima e cinismo.

“6. Tudo isso pode ser menos relevante, mas nenhum desses argumentos é de fundo religioso ou de porte inteiramente desprezível.”

Além dos problemas políticos, religiosos e físicos, como lembra Lage, o aborto pode afetar seriamente a saúde psíquica das mulheres. Em pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da USP, com 120 mulheres que passaram por aborto, mais da metade apresentaram algum nível de depressão e a maioria sofria de baixa a média estima pessoal.

No Facebook, minha irmã Michela, que é advogada, mãe de duas filhas e mora em Criciúma, SC, deu a opinião dela sobre esse assunto. Leia o que ela escreveu:

“Eu estava vendo há alguns dias fotos de atrizes e atores com peruca azul que davam a entender que fariam parte de uma campanha pró-aborto, mas somente hoje tive a infelicidade de assistir ao vídeo e não pude me calar. Dentre muitos absurdos que ouvi no vídeo, um me chamou especial atenção. Uma atriz alega em sua interpretação que era apenas uma criança, uma adolescente, engravidou e abortou. Espera aí! Eu engravidei com 15 anos! Estava no primeiro ano do ensino médio. Meu namorado também era apenas um estudante na época. Eu era uma criança! Ou melhor, uma adolescente! Poderia ter abortado, eu não tinha condições nem de me manter! Mas então algo me vem à mente: eu teria carregado o sofrimento, a culpa, a frustração pelo resto da minha vida. E pensamentos do tipo: Como seria se meu filho ou filha estivesse hoje aqui comigo? Como ele/ela seria?, invadiriam, por certo, minha mente em muitos momentos. Mas eu, dona do meu corpo, decidi que a teria. Decidi que arranjaria forças de minhas entranhas, se possível, para sobreviver, criá-la, fazê-la feliz, ser feliz, ir em frente, viver. Tive ajuda da família. Meu marido e eu lutamos, e não foi fácil, não. Só Deus e quem nos rodeava sabem quão difícil foi a batalha, mas vencemos. E bênçãos sem medida foram derramadas do Céu. E ela? Ah, o bebê que decidi ter se tornou uma linda mulher – com um caráter irretocável, uma bondade inata, uma inteligência de dar orgulho. Hoje ela é médica. É dedicada, estudiosa e inteligente. Com certeza desempenhará sua função com maestria na sociedade. E, de repente, me deparo com um pensamento de mãe babona, orgulhosa: Já pensou se algum dia ela salva a vida de algum desses atores, ou de um querido deles? Querem saber, não me arrependo, mas com certeza teria me arrependido se não a tivesse aqui, ao meu lado.”

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Que mundo é este em que estamos vivendo? Exatamente o mundo previsto na profecia do livro que aqueles atores debocharam: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mateus 24:12).

Michelson Borges