A acusação “vocês não são ‘pró-vida’, são apenas ‘pró-nascimento’!” parece ser apenas um caso de ignorância mesmo

“Não podemos achar que aborto é uma questão de ‘sim, sim, não, não’, pois há muita complexidade envolvida; não podemos ser simplistas, precisamos ajudar as pessoas, etc.” Ok, jovem crente millennial, e você supõe que ninguém pensou nisso antes de você, não é? Chega a ser arrogância imaginar que em dois mil anos de cristianismo ninguém pensou nessas complexidades, que nunca houve reflexão, e, pior, que nunca houve ação a respeito disso.
A fé cristã, desde o início, nadou contra a corrente do mundo greco-romano, defendendo consistentemente a sacralidade da vida em qualquer fase. Não havia nada a ganhar politicamente com essa postura, pelo contrário, isso só atraiu oposição.
Documentos antigos, como a Carta a Diogneto, já descrevem os cristãos como aqueles que “não matam a sua prole”. O Didaquê orienta o cristão a “não obter [um] aborto, nem destruir uma criança nascida”(2:1). A Carta de Barnabé ordena: “Não matarás a criança fazendo aborto, nem a destruirás depois que nascer”(19:5).
Pesquisa de Michael Gorman feita em fontes documentais primárias mostra como os cristãos eram consistentemente antiaborto, contra a opinião popular do mundo greco-romano (confira). Outra pesquisa (Rob Arner) mostra que os primeiros cristãos discordavam em alguns assuntos, mas não na questão antiaborto. Isso era um consenso, e eles eram coerentemente pró-vida, valorizando a vida humana em todas as suas fases (confira).
Cristãos foram responsáveis pela formação histórica de uma enorme rede de amparo a órfãos, pobres, viúvas, etc. Por influência cristã, o infanticídio deixou de ser prática aceitável (era comum pescadores do rio Tibre, em Roma, encontrarem corpos de bebês abandonados enroscados em suas redes); o status legal de crianças abandonadas foi alterado (confira).
Há várias pesquisas que mostram como o movimento de Jesus mudou o modo como as crianças eram consideradas na sociedade (ex.: E se Jesus Não Tivesse Nascido?, James Kennedy; How Christianity Changed the World, Alvin Schmidt; Seven Revolutions: How Christianity Changed the World and Can Change It Again, Mike Aquilina).
Todas essas obras descrevem o impacto do advento histórico do cristianismo sobre as relações entre adultos e crianças – a visão cristã da criança abalou várias práticas pagãs: o aborto, o infanticídio e a pedofilia. Numa cultura que tratava com normalidade a pedofilia, e, como Sêneca disse, livrar-se de crianças inúteis era simplesmente a coisa razoável a fazer, com o advento da fé cristã, as crianças passaram a ser vistas como seres humanos plenos em dignidade, mais uma responsabilidade do que uma propriedade.
Por mais que os secularistas tentem não tocar no assunto, é impossível negar que uma das maiores contribuições para o conceito de Direitos Humanos foi a doutrina cristã da Imago Dei (o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus). Eles gostam de destacar a “inspiração iluminista” ou a “influência humanista”, dando todo o crédito da defesa da dignidade humana a qualquer movimento, desde que não seja o cristianismo.
Ainda hoje, evangélicos adotam duas vezes mais que a média nacional nos EUA (confira). Entre os evangélicos, líderes como John Piper, Rick Warren e grupos como o World Orphans, Visão Mundial, Christian Alliance for Orphans, Every Child Ministries trouxeram à tona um dado impressionante: evangélicos adotam muito, e muito mais que outros grupos. Adoção se tornou até um ministério de igrejas locais (as igrejas têm um “departamento de adoção”); fala-se em um “movimento mundial” evangélico de adoção.
O perfil do grupo que mais adota crianças inclui a fé cristã como característica. Ou seja: cristãos estão entre os grupos que mais adotam (confira). Os católicos mantêm uma das maiores redes de orfanatos e cuidados de crianças abandonadas do mundo (pesquise “foster care” e “child welfare services”). A UNICEF reconhece o importante papel das instituições religiosas no cuidado mundial de crianças órfãs e vulneráveis (confira).
Há uma grande rede cristã de apoio a mulheres grávidas em situação de desamparo social, e, inclusive, há inúmeros ministérios de apoio a mulheres que realizaram aborto (pesquise “after abortion care” ou “post-abortion care”)! (aqui e aqui)
A ONG Abortion Changes You, por exemplo, criou um mapa com uma rede de ajuda às pessoas que passaram por aborto, cobrindo todo o território dos EUA, oferecendo terapeutas, conselheiros de casais, conselheiros individuais, workshops de retiros de fim de semana, grupos de apoio ao luto e aconselhamento espiritual.
Até a Focus On The Family (criticada por ser “fundamentalista”) oferece serviço de ajuda a pessoas que passaram por um aborto (além de ajudar em casos de gravidez não planejada, adoção, orfandade, etc.). No Brasil, existem instituições cristãs como a Missão Fiat Mihi, a Casa Pró-Vida Mãe Imaculada, e a Casa da Gestante Pró-vida, entre outras.
Assim, a acusação “vocês não são ‘pró-vida’, são apenas ‘pró-nascimento’!” parece ser apenas um caso de ignorância mesmo.
Jovens precisam ser mais humildes em seu ímpeto de criticar a própria herança cristã, e mais justos no apelo por autocrítica. Ninguém precisa atender a um apelo motivado por um imaturo sentimento anticristão e fundamentado em evidente ignorância histórica.
A influência do Cristianismo deu um sentido sagrado à vida das crianças, fazendo com que o infanticídio fosse legalmente banido do Império Romano. O argumento cristão é teológico, não meramente humanista. Deus conhece e Se envolve com a criança que cresce ainda no ventre, é o que ensinam textos como o Salmo 139, o livro de Jó e as experiências de João Batista e de Jesus.
Pense se vale a pena dar ouvidos a pensadores e especialistas que vivem relativizando o valor da vida de crianças e desumanizando quem ainda não nasceu; que acham que “família é invenção burguesa”; que já decidiram, baseados em nada, que a moral judaico-cristã é a culpada de quase tudo de ruim que existe no mundo.
O altar de Moloque tem recebido tratamento acadêmico respeitável, poesias sobre “amor”, embasamento teórico e bolsa de pesquisa, mas continua sendo “repugnante” aos olhos do Senhor.
Leia mais sobre aborto aqui.
Compartilhe este conteúdo:
Gostar disto:
Gosto Carregando...