Tenho uma amiga que é extremamente talentosa. Ela é pianista, compositora, conheço poucos como ela. Contudo, pouquíssimas vezes a ouvi cantando em público. Essa amiga, apesar de ter uma voz belíssima, acredita que não pode cantar porque, quando criança, uma única vez ouviu de sua mãe que cantar não era para ela, e essas palavras lhe foram tão pesadas que até hoje o fardo não saiu de suas costas. Ela realmente acredita que não pode cantar. O que é uma pena, porque todos que a conhecemos sabemos de sua capacidade inquestionável.
Palavra. É impressionante como esse termo carrega tanto significado. Na verdade, se tem uma palavra que pode conter o mundo inteiro é esta: PALAVRA. Não é por acaso que o próprio Deus é descrito no evangelho de João como o Verbo – justamente a classe de palavras que comporta toda ação, emoção, processo, estado. Tudo está Nele, foi criado por Ele e para Ele.
Na Bíblia, palavra é um termo muito importante e recorrente. Ocorre em cerca de 2.255 versículos. Em grande parte dos casos, vemos a expressão “E veio a palavra do Senhor a…” para se referir a alguma revelação ou comunicação de Deus com seus servos, os profetas. Note-se que sempre se trata de “a palavra” e não “palavras” ou mesmo “uma palavra”. Isso quer dizer que, no que se refere a Deus, não há dubiedade, não há insegurança, não há hesitação – a palavra que vem de Deus é certa, precisa, não erra, não se equivoca.
Certamente, Deus nunca precisa parar e pensar antes de pronunciar sua Palavra. Ele não precisa reformular, pôr em ordem as ideias. Tudo Nele é perfeito, exato, não há confusão. Infelizmente, nós seres humanos não somos assim. Fico pensando em quantas vezes minhas palavras foram equivocadas; quantas vezes tive que voltar atrás, reformular, ou mudar completamente o que havia dito; fico pensando no quanto preciso pensar antes de externar um punhado de pensamentos soltos e confusos; no quanto minhas palavras desferiram golpes que atravessaram corações.
Talvez por isso a Bíblia tenha deixado uma série de conselhos sobre como fazer bom uso de nossas palavras. Acredito que o maior conselheiro sobre o assunto seja Salomão. Aquele a quem Deus dotou de maior sabedoria neste mundo dedicou boa parte de seus escritos aconselhando-nos a ter cuidado com as palavras, fato que reforça ainda mais a importância da questão.
Muitos versos são conhecidos, como “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15:1), ou “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Pv 25:11). Outros nem tanto, mas revelam igual preciosidade: “Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa” (Pv 30:8); “O que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma das angústias” (Pv 21:23).
Sabe, o que Salomão está nos dizendo insistentemente é que devemos tomar muito, muito cuidado com as palavras, pois elas podem ser instrumento para o bem ou para o mal e, seja para que fim sejam usadas, elas são muito poderosas.
Palavras podem mudar o rumo de uma vida. Mais que isso: palavras podem levar à vida ou à morte. Mas quão difícil é controlar nossas palavras ou prever o efeito que elas poderão ter. De fato, e agora falo por experiência própria, só Deus pode fazer em nós esse tipo de transformação. Só Ele pode controlar essa espada afiada que carregamos na boca e que machuca até mesmo sem querer. Só Ele pode torná-la um instrumento Seu.
Nossas palavras precisam ser de verdade, de vida e de amor. Na Bíblia, Jesus Cristo é a verdade. Ele é a vida (Jo 14:6). Ele é amor (1Jo 4:8). Ele é a própria palavra (Jo 1:1). Não há como ter as palavras transformadas senão por meio de Cristo. Precisamos pedir a Ele que nos transforme e, acima de tudo, precisamos entregar a Ele nossa “espada”, para que tenha um único gume, e este para o bem.
De igual forma, não há como estar em Cristo, ser reavivado, ser nova criatura e continuar com as antigas palavras que machucam. O reavivamento espiritual é um processo completo que atinge cada mínimo ponto de nossa vida. O ser reavivado possui palavras reavivadas, ou seja, cheias de vida, de nova vida – cheias de Jesus Cristo.
A escritora Ellen White nos adverte: “As palavras são um indício do que se acha no coração. ‘A boca fala do que está cheio o coração.’ Mas as palavras são mais que um indício do caráter; têm poder de reagir sobre o caráter. Os homens são influenciados por suas próprias palavras” (O Desejado de todas as nações, p. 323). Esse texto explicita que, se temos vida em nós, externamos vida pelas palavras; se temos amor, externamos amor. Por outro lado, se externamos amor, ganhamos amor; se externamos vida, ganhamos vida. A espada de dois gumes, nessa perspectiva, ganha novo sentido para mim: corta tanto para fora quanto para dentro. Nossas palavras precisam edificar tanto aos outros quanto a nós. Deus é tão sábio, tão bom que, mais uma vez, nos beneficia ao fazermos Sua vontade.
Um último verso que gostaria de citar e que possui uma verdade muito forte vem novamente de Salomão: “A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto” (Pv. 18:21). Que comamos do fruto da vida a cada dia e que o compartilhemos com todos ao redor. Que nossas palavras elevem, acariciem, confortem, transformem, amem e salvem, por meio de Cristo.
(Danivia Mattozo Wolff é Revisora de Textos | Assembleia Legislativa de Minas Gerais)