Muitas vozes têm-se levantado nas redes sociais trazendo mensagens sobre a volta de Cristo. Tem aqueles que, no afã de ver Jesus voltando logo, se arriscam a marcar datas para os últimos eventos escatológicos. Tem outros que, preocupados com o alarmismo, e na melhor das boas intenções, usam frases que acabam levando muitos para o extremo oposto: “Muita coisa ainda tem que acontecer!” “Vai levar pelo menos 20 anos para pregar o evangelho no mundo inteiro!” “O mais importante é o preparo! Não me importam as notícias!” Enfim, diante de tantas vozes, como equacionar esse tema de forma coerente e equilibrada? O papel do Tsôpeh e o sermão profético de Jesus são a chave para encontrar a resposta.
No hebraico bíblico, encontramos a figura do Tsôpeh. E os profetas, muitas vezes, foram comparados ao Tsôpeh. Segundo o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, Tsôpeh, traduzido como “sentinela”, “atalaia”, era aquele “colocado sobre o muro da cidade e era responsável por informar a liderança da nação acerca dos perigos (1Sm 14:16; 2Sm 18:24; 2Rs 9:17-20). A sentinela que falhasse no cumprimento do dever frequentemente era executada. O ofício profético é, às vezes, descrito com essa linguagem (Ez 3:17; 33:7; Jr 6:17; Hc 2:1)” (p. 1299 e 1300).
No mundo moderno, a responsabilidade do Tsôpeh repousa sobre os cristãos: “Devem os seguidores de Cristo associar-se num poderoso esforço para chamar a atenção do mundo para as profecias da Palavra de Deus que se cumprem rapidamente” (Ellen White, Evangelismo, p. 193).
O papel do atalaia ou sentinela era observar os sinais de perigo e soar o alarme (trombeta) para que as pessoas da cidade se preparassem para o que estava para acontecer. O paralelo com a realidade moderna é indiscutível: “Estão iminentes os perigos dos últimos dias, e em nossa obra temos que advertir as pessoas do perigo em que se encontram. Não permaneçam sem ser abordadas essas cenas solenes que a profecia revelou” (Ellen White, Evangelismo, p. 195).
“Como fiéis atalaias, devemos dar o aviso ao ver que vem a espada, para que homens e mulheres, pela ignorância, não sigam um rumo que evitariam se conhecessem a verdade” (Ellen White, Eventos Finais, p. 127).
Na teologia bíblica, soar o alarme é diferente de alarmismo, assim como ser perfeito é diferente de perfeccionismo.
No século 19, durante o Movimento Milerita nos Estados Unidos, a mensagem da breve volta de Cristo à Terra cativou a atenção de milhares de pessoas, porém, muitos líderes protestantes falharam em sua missão de atalaias: “Os pastores, que, como ‘atalaias sobre a casa de Israel’, deveriam ter sido os primeiros a discernir os sinais da vinda de Jesus, não quiseram saber a verdade, quer pelo testemunho dos profetas, quer pelos sinais dos tempos” (Ellen White, O Grande Conflito, p. 380).
Observar os sinais dos tempos é uma necessidade prescrita pelo próprio Senhor Jesus: “Assim também vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que está próxima, às portas” (Mateus 24:33).
“Toda notícia de calamidade em mar ou em terra é um testemunho de que o fim de todas as coisas está próximo. Guerras e rumores de guerras, declaram-no. Haverá um só cristão cuja pulsação não se acelere ao prever os acontecimentos que se iniciam perante nós?” (Ellen White, Evangelismo, p. 219).
“Deveremos esperar até que se cumpram as profecias do fim, antes de dizermos alguma coisa a seu respeito? Que valor terão nossas palavras então?” (Ellen White, Testemunhos para a Igreja, v. 9, p. 20) .
Por outro lado, nesse mesmo contexto do sermão profético, o Salvador estabeleceu limites importantes para a missão do atalaia. O primeiro deles foi: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mateus 24:36).
Em outras palavras, cuidado com o alarmismo! Estabelecer datas para os eventos finais é algo que desqualifica qualquer um que pretenda ser um atalaia fiel. “Tenho sido repetidamente advertida com referência a marcar tempo. Nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo. Não devemos saber o tempo definido nem para o derramamento do Espírito Santo nem para a vinda de Cristo” (Ellen White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 188).
Da mesma forma, outro perigo a ser evitado pelos cristãos está no extremo oposto. São o comodismo e a sonolência. É o estado de muitos que, por palavras ou ações, perdem o senso da brevidade da volta de Cristo e tornam-se semelhantes ao mundo imitando seus costumes e ambições. Colocando o coração neste mundo, vivem apenas para os cuidados, as ansiedades e os interesses terrenos.
“Está desaparecendo a fé na próxima vinda de Cristo. ‘Meu Senhor tarde virá’ (Mt 24:48), não se diz apenas no coração, mas exprime-se também em palavras e ainda mais decididamente nas obras. A insensatez, neste tempo de espera, está entorpecendo os sentidos do povo de Deus quanto aos sinais dos tempos” (Ellen White, Testemunhos para a Igreja, v. 3, p. 255).
Para evitar esses extremos, a ordem clara de Jesus foi: “Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24:42). E para explicar o significado de “vigiar”, Ele contou em seguida três parábolas.
A primeira (Mt 24:45-51) para mostrar que o bom servo (o que vigia) é aquele que não perde o senso da brevidade do retorno do Senhor, relaxando em sua vida e acabando por imitar os costumes, interesses e ambições daqueles que vivem só para o presente século.
Na segunda parábola (Mt 25:1-13), as cinco virgens insensatas ilustram o perigo de professar a religião de Cristo (lâmpada), mas possuir uma espiritualidade superficial, não permitindo a transformação diária operada pelo Espírito Santo (azeite), colaborando, assim, para uma vida religiosa meramente formal.
Por fim, a terceira parábola, conhecida como parábola dos talentos (Mt 25:14-30), foi contada para mostrar que “o tempo [de espera] não deve ser gasto em vigilância ociosa, mas em trabalho diligente” (Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 325).
“O povo de Deus deve acatar a advertência e discernir os sinais dos tempos. Os sinais da vinda de Cristo são demasiado claros para deles se duvidar; e em vista destas coisas, todo aquele que professa a verdade deve ser um pregador vivo” (Ellen White, Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 260).
Sendo assim, o papel do Tsôpeh (atalaia) juntamente com o sermão profético de Jesus, fornecem uma visão completa do papel ativo, coerente e equilibrado que os cristãos que aguardam o retorno do Mestre devem desempenhar. Tal visão pode ser representada pelo seguinte gráfico:
Diante de tudo o que foi abordado, ninguém deveria se esquecer da razão do sermão profético de Cristo e de outras profecias escatológicas da Palavra de Deus: “A mensagem da breve volta de Cristo visa despertar os homens de sua absorção nas coisas temporais. Destina-se a acordá-los para o senso das realidades eternas” (Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 228).
Ora, vem, Senhor Jesus!
Sérgio Santeli é pastor e mestre em Teologia