Aliados de Trump se preparam para infundir “nacionalismo cristão” na segunda administração

Liderando o esforço está Russell Vought, presidente do Centro para a Renovação da América, parte de um consórcio conservador que se prepara para o regresso de Trump ao poder

Um influente think tank próximo de Donald Trump está desenvolvendo planos para infundir ideias nacionalistas cristãs na sua administração, caso o ex-presidente regresse ao poder, de acordo com documentos obtidos pelo Politico. Liderando o esforço está Russell Vought [foto ao lado], que serviu como diretor do Gabinete de Gestão e Orçamento de Trump durante seu primeiro mandato e permaneceu próximo dele. Vought, que é frequentemente citado como potencial chefe de gabinete numa segunda Casa Branca de Trump, é presidente do think tank Center for Renewing America, grupo líder num consórcio conservador que se prepara para um segundo mandato de Trump.

Os nacionalistas cristãos na América acreditam que o país foi fundado como uma nação cristã e que os valores cristãos devem ser priorizados em todo o governo e na vida pública. À medida que o país se tornou menos religioso e mais diversificado, Vought abraçou a ideia de que os cristãos estão sob ataque e falou de políticas que poderia seguir em resposta.

Um documento elaborado pela equipe e bolsistas do CRA inclui uma lista das principais prioridades para o CRA em um segundo mandato de Trump. O “nacionalismo cristão” é um dos pontos principais. Outros incluem invocar a Lei da Insurreição no primeiro dia para reprimir os protestos e recusar gastar fundos autorizados pelo Congresso em projetos indesejados, uma prática proibida pelos legisladores na era Nixon.

O trabalho do CRA enquadra-se num esforço mais amplo de organizações conservadoras com tendência para influenciar uma futura Casa Branca de Trump. Duas pessoas familiarizadas com os planos, a quem foi concedido anonimato para discutir assuntos internos, disseram que Vought espera que sua proximidade e contato regular com o ex-presidente – ele e Trump conversam pelo menos uma vez por mês, segundo uma das pessoas – elevem o nacionalismo cristão como ponto focal num segundo mandato de Trump.

Os documentos obtidos pelo Politico não descrevem políticas nacionalistas cristãs específicas. Mas Vought promoveu uma agenda restricionista de imigração, dizendo que a origem de uma pessoa não define quem pode entrar nos EUA, mas, sim, citando os ensinamentos bíblicos, se essa pessoa “aceitou o Deus de Israel, as leis e a compreensão da história”.

Vought tem uma estreita ligação com o nacionalista cristão William Wolfe, antigo funcionário da administração Trump que defendeu a anulação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o fim do aborto e a redução do acesso a contraceptivos.

Vought, que não quis comentar, está assessorando o Projeto 2025, uma agenda governamental que daria início a um dos ramos executivos mais conservadores da história americana moderna. O esforço é constituído por uma constelação de grupos conservadores dirigidos por aliados de Trump que construíram um plano detalhado para desmantelar ou reformar agências importantes num segundo mandato. Entre outros princípios, o “Mandato para Liderança” do projeto afirma que “a liberdade é definida por Deus, não pelo homem”. […]

Trump não é um homem de fé devoto. Mas os nacionalistas cristãos têm estado entre os seus ativistas de campanha e blocos eleitorais mais confiáveis. Trump formou uma aliança política com os evangélicos durante sua primeira candidatura ao cargo, proporcionou-lhes uma maioria conservadora de seis a três no Supremo Tribunal e está agora defendendo o argumento de longa data da direita cristã de que os cristãos são tão severamente perseguidos que é necessária uma resposta federal.

Num discurso de campanha em dezembro em Iowa, ele disse que “marxistas e fascistas” estão “sendo duros” contra os católicos. “Ao assumir o cargo, criarei uma nova força-tarefa federal para combater o preconceito anticristão, a ser liderada por um Departamento de Justiça totalmente reformado, que seja justo e equitativo”, e que “investigará todas as formas de discriminação ilegal.”

Às vésperas das prévias de Iowa, Trump promoveu em suas redes sociais um vídeo que sugere que sua campanha é, na verdade, uma missão divina de Deus.

Em 2019, o então secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, criou uma comissão federal para definir os direitos humanos com base nos preceitos descritos por Vought, especificamente “lei natural e direitos naturais”. A lei natural é a crença de que existem regras universais derivadas de Deus que não podem ser substituídas pelo governo ou pelos juízes. Embora seja um pilar central do catolicismo, nas últimas décadas tem sido usado para se opor ao aborto, aos direitos LGBTQ+ e à contracepção.

Vought vê a missão dele e da sua organização como “renovar um consenso da América como uma nação sob Deus”, de acordo com uma declaração no site do CRA, e remodelar o contrato do governo com os governados. A liberdade religiosa continuaria a ser um direito protegido, mas Vought e os seus irmãos ideológicos não hesitariam em usar os seus cargos administrativos para promover a doutrina cristã e imbuir a política pública com ela, segundo ambas as pessoas familiarizadas com o assunto, a quem foi concedido o anonimato para evitar retaliações. Ele faz referência clara ao fato de os direitos humanos serem definidos por Deus, não pelo homem.

A América deveria ser reconhecida como uma nação cristã “onde os nossos direitos e deveres são entendidos como vindos de Deus”, escreveu Vought há dois anos na Newsweek.

“É um compromisso com uma separação institucional entre a Igreja e o Estado, mas não com a separação do Cristianismo da sua influência sobre o governo e a sociedade”, continuou ele, observando que tal quadro “pode levar a resultados benéficos para as nossas próprias comunidades, bem como para indivíduos de todas as religiões”.

Ele prosseguiu acusando os detratores do nacionalismo cristão de invocarem o termo para tentar assustar as pessoas. “‘Nacionalismo cristão’ é na verdade uma descrição bastante benigna e útil para aqueles que acreditam na preservação da herança judaico-cristã do nosso país e na tomada de decisões de políticas públicas que sejam melhores para este país”, escreveu ele.

Para cair nas boas graças dos círculos conservadores – e dos conservadores cristãos –, Trump recorreu frequentemente a agentes deles. Entre aqueles que ajudaram estava Vought. […]

Trump também está falando em trazer de volta ao cargo seu antigo conselheiro de segurança nacional, Michael Flynn, um defensor do nacionalismo cristão. Flynn está atualmente focado em recrutar o que ele chama de “Exército de Deus” – enquanto ele invade o país promovendo sua visão de colocar o Cristianismo no centro da vida americana. […]

O Projeto 2025 da Heritage Foundation oferece mais visibilidade sobre a agenda política que uma futura administração Trump poderá prosseguir. Afirma que as políticas que apoiam os direitos LGBTQ+, subsidiam a “maternidade solteira” e penalizam o casamento devem ser revogadas porque as noções subjetivas de “identidade de género” ameaçam as “liberdades fundamentais dos americanos”. […]

O esforço para imbuir as leis com princípios bíblicos já está em andamento em alguns estados. No Texas, os apoiantes conservadores cristãos pressionaram a legislatura para exigir que as escolas públicas exibam os Dez Mandamentos em todas as salas de aula; proibições direcionadas às igrejas contra a defesa direta de políticas e campanhas organizadas em torno de questões de “guerra cultural”, incluindo a redução dos direitos LGBTQ+, a proibição de livros e a oposição às leis de segurança de armas.

“Houve uma mudança tectônica na forma como a liderança da direita religiosa opera”, disse Matthew Taylor, acadêmico do Instituto de Estudos Islâmicos, Cristãos e Judaicos, que cresceu como evangélico. “Essas pessoas não estão tão interessadas na democracia ou em trabalhar através de sistemas democráticos como na velha direita religiosa porque sua teologia é a da guerra cristã.”

(Politico)

Leia também: America is facing a threat of biblical proportion: The rise of Christian nationalism 

Direita conservadora reconquista espaço e vence eleições

Uma onda direitista conservadora começa a se levantar pelo mundo, para o desespero da esquerda radical mundial e interesse dos estudiosos das profecias

holanda

“O Partido da Liberdade, de Geert Wilders, ganhou amplamente as eleições antecipadas holandesas, obtendo 23,5% dos votos e 37 cadeiras. É a vitória da direita, que coloca um ‘problema’ para a Europa. A era Mark Rutte, que perseguiu os agricultores e caminhoneiros levando muitos deles ao suicídio, acabou. Uma nova era se inicia com Wilders, conservador de direita, anti-Islam e anti-União Europeia que vive sob escolta há mais de quinze anos por suas posições. O líder Wilders convenceu a maioria dos eleitores a escolher sua linha dura de ‘não aos imigrantes, não às escolas islâmicas, não ao Alcorão e não às mesquitas’.

Wilders será a agulha da balança para dar vida a uma coalizão marcadamente de direita após longos anos na oposição. Após uma campanha eleitoral tensa, dominada por um debate duro sobre imigração, agenda climática e crise habitacional, os mais de 13 milhões de holandeses com direito a voto, o único com sufrágio universal, mobilizaram-se, apesar de uma participação reduzida em relação ao passado.

Mais do que dobrando o saque dos 17 assentos obtidos nas políticas de 2021, o PVV de Wilders ganha 35 dos 150 assentos em disputa na Câmara Baixa dos Estados Gerais da Holanda. Uma onda de direita começa a se levantar pelo mundo, para o desespero da esquerda radical mundial. Depois de Milei na Argentina, chega Geert Wilders na Holanda – no próximo ano Donald Trump é o nome mais cotado para voltar a Presidência dos Estados Unidos” (Karina Michelin).

Leia também: “Populista de extrema-direita aparece como grande vencedor em pesquisa de boca de urna na Holanda” e “Holanda: legalizar maconha e prostituição foi um erro”

Leia mais: “Conservadores atingem maior número entre os americanos em uma década”

“A lacração identitária, aparentemente, está rendendo frutos, mas para seus adversários. O conservadorismo, tanto no campo dos costumes quanto no campo da economia, atingiu os maiores níveis entre os americanos em uma década. São as novas conclusões publicadas na semana passada (8) pela empresa de pesquisa Gallup. Os americanos que se dizem conservadores em questões sociais atingiram 38% em 2023, nível não visto desde 2012. Foi um salto de cinco pontos percentuais em apenas um ano, virando o jogo sobre os autodeclarados progressistas, que caíram de 34% para 29% desde 2022.”

Esses dados são muito interessantes. Segundo pesquisa realizada pela associação americana Catholic Project, grande parte dos padres hoje se considera conservadora, ao contrário do que aconteceu nos anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II, quando a grande maioria dos padres se declarou progressista. Poderíamos dizer que os líderes do Vaticano ainda são claramente liberais-progressistas, enquanto os padres mais novos são inspirados pela tradição pré-conciliar. Se esses dados forem precisos, os fundamentos para a restauração da Igreja Católica já estão aí…

Nova Resolução do Ministério da Saúde trata terreiros como “complementares do SUS”

E um trecho polêmico da Resolução 715/2023, aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) em julho deste ano, chamou atenção a proposta de tratar “terreiros, terreiras, barracões, casas de religião” como “equipamentos promotores de saúde e cura complementares do SUS”. No que diz respeito ao tratamento dos locais de culto de religiões como a umbanda, a Resolução propõe em seu artigo 46:

“(Re)conhecer as manifestações da cultura popular dos povos tradicionais de matriz africana e as Unidades Territoriais Tradicionais de Matriz Africana (terreiros, terreiras, barracões, casas de religião, etc.) como equipamentos promotores de saúde e cura complementares do SUS, no processo de promoção da saúde e 1ª porta de entrada para os que mais precisavam e de espaço de cura para o desequilíbrio mental, psíquico, social, alimentar e com isso respeitar as complexidades inerentes às culturas e povos tradicionais de matriz africana, na busca da preservação, instrumentos esses previstos na política de saúde pública, combate ao racismo, à violação de direitos, à discriminação religiosa, dentre outras.”

Juristas evangélicos criticaram, em especial, a oferta de hormônios para menores e o tom político-ideológico das proposições, diferentemente do posicionamento técnico-científico que se espera de um órgão de Saúde do Estado.

“A Resolução nº 715/2023 promove políticas públicas nefastas, com graves efeitos danosos contra a população brasileira, especialmente às crianças e aos adolescentes, em caso de sua implementação. Dentre essas, ressaltam-se as recomendações pela ‘redução da idade de início de hormonização para 14 anos’ em tratamentos de transição de gênero, e pela ‘legalização do aborto e a legalização da maconha no Brasil’ como forma de ‘combate às desigualdades estruturais e históricas’”, diz a ANAJURE.

Os juristas evangélicos, assim, concluem que o documento “promove publicamente pautas contrárias à proteção constitucional à vida e à infância, bem como em direta oposição às leis vigentes no país”.

Para ler a íntegra da nota, clique aqui.

(Portal de Prefeitura)

Nota: Existe aí uma quebra da laicidade do Estado, pois teria que haver, no mínimo, uma “acomodação” isonômica com relação às demais religiões, também como complementares do SUS e promotoras da saúde, tais como os centros de recuperação de toxicômanos das igrejas evangélicas e demais entidades religiosas ligadas a ações de saúde (os centros de vida saudáveis adventistas, por exemplo). Mas a norma equipara apenas os centros de umbanda e terreiros como complementares do SUS, o que é inconstitucional pela quebra da isonomia e da laicidade. O Conselho de Psicologia, por exemplo, veda o tratamento psicológico com base em princípios e dogmas religiosos, o que apenas evidencia a ilegalidade dessa nova norma do SUS.

Não deixe que ideologias roubem a verdadeira esperança

A confiança em Deus não vem de ideologias que contrariam a Bíblia. E, ao mesmo tempo, essa esperança não anula a importância do envolvimento social.

Guilherme Miller (1782-1849), precursor do movimento adventista, que arrebanhou milhões de adeptos nos Estados Unidos da América no século XIX, foi um homem descrente durante parte de sua vida. Na adolescência, Miller aderiu a uma corrente intelectual de destaque à época, o deísmo, que desafiava os ensinamentos recebidos por ele através de sua família cristã. A ideia de um Deus pessoal, que intervém na história e se relaciona com as criaturas, tornou-se, dentro da crença nos esforços humanos para construir um mundo melhor, objeto de sua devoção. Durante esse período, a religião foi reduzida a assunto para piadas em bebedeiras com os amigos.

Conceitos como pecado, salvação e eternidade eram infantis para Miller. Ao invés disso, amizade, nacionalismo, educação e ciência eram alguns de seus dogmas. Essas crenças não resistiram à sangrenta guerra vivida em sua época, em 1812 (conflito militar contra a Grã-Bretanha). A experiência de Miller durante o conflito implodiu sua fé no homem e o voltou para Deus e, posteriormente, às Escrituras. “A Bíblia se tornou meu livro de estudo principal, e posso verdadeiramente dizer que passei a investigá-la com grande deleite.”[1]

Uma nova esperança 

O retorno de Miller à Bíblia o levou para uma verdade ignorada nos púlpitos cristãos da época: a volta iminente, literal, corporal e visível de Jesus Cristo nas nuvens dos céus. Naquele contexto, as igrejas haviam se rendido ao espírito otimista do seu tempo. Os grandes avanços e feitos humanos haviam se incorporado às suas teologias. Por outro lado, “o fundamento do milerismo estava no conceito pessimista de que a humanidade não alcançaria seus grandiosos planos”.[2]

Ao invés disso, a solução para o problema humano viria por meio da intervenção de Deus na história, com o segundo advento de Cristo. Nesse sentido, o milerismo passou a arrebanhar setores da população que, também, estavam se tornando desiludidos com as iniciativas humanas e resultou em confronto entre os cristãos otimistas e os adventistas pessimistas.

Aprendendo com as lições passadas 

Olhar em retrospecto para a conversão de Miller, o crescimento do adventismo e o impacto desses movimentos revela que o ceticismo para com a ação humana está diretamente relacionado à crença da ação de Deus na história. As ideologias, nesse sentido, devem ser encaradas como ferramentas capazes de comprometer a devoção e drenar as esperanças.

Por essa razão, Carlos Flávio Teixeira entende que o “papel do teólogo é desmontar tais ideologias, reconduzir o indivíduo inteligível de volta à Bíblia”[3]. Segundo o reitor da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama), “ao cuidar de uma teologia puramente bíblica e preocupada com a integralidade indivisível do ser humano, indiretamente combaterá tais desvios da mentalidade humana em seus devaneios especulativos”[4], explica. “Além de combater tais ideologias, o teólogo deve cuidar para que elas não o influenciem, limitem ou direcionem sua teologia”, finaliza Teixeira.[5] Amoldar-se às pressões de seu tempo é desfigurar a fé.

Envolvimento social 

A crença na ação de Deus, por outro lado, não consiste no abandono da busca por justiça social. Essa é uma aspiração legítima dos discípulos de Jesus. Um bom exemplo do equilíbrio entre a crença em Jesus e os impactos sociais do Evangelho é encontrado em John Wesley (1703-1791), um dos principais articuladores da abolição da escravatura na Inglaterra.

Vishal Mangalwadi comenta que “Wesley cria que a Palavra de Deus convoca a salvação de almas individuais. Mas também nos dá ordens para a existência nacional e para uma vida social na presença de Deus”.[6] Em outras palavras, “a redenção do indivíduo leva à regeneração social”.[7]

Pioneiros adventistas herdaram a ênfase na santidade social dos metodistas e também souberam articular teologia e sociedade. Um exemplo foi o compromisso dos primeiros adventistas com o combate à escravidão. Richard W. Schwarz afirma que “as convicções abolicionistas da maioria dos conferencistas mileritas os tornavam persona non grata [pessoas não bem-vindas ou aceitáveis] no sul”.[8]

Joshua V. Himes, o grande responsável pela expansão do adventismo milerita por meio da literatura, manifestou-se contra a possibilidade de donos de escravos envolverem-se na causa “com base no argumento de que eles corromperam a organização”.[9] Para Himes, a abolição era uma questão inegociável para o cristianismo. John Byington (1798-1887) e Joseph Bates (1792-1872), que foram presidentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia, também se mostraram ativamente envolvidos nessa causa.

Liberdade religiosa

Em A. T. Jones podemos destacar a defesa da liberdade religiosa em uma época em que esse princípio ainda cambaleava. Dizia ele que as “coisas pertencentes a Deus não podem ser submetidas ao governo, aos poderes constituídos”.[10] Por isso, ele percebia a prevalência de algumas ideologias à sua época como ameaças. “O princípio que serve de base para o Dr. Crafts e seus aliados na lei dominical conseguirem o apoio da classe operária neste projeto de lei não é nada mais do que evidente socialismo”.[11]

Ellen G. White, por sua vez, percebeu as consequências da escravidão nos Estados Unidos e manifestou sua preocupação promovendo a causa da educação como ferramenta para a ascensão social dos negros. “A nação americana possui uma dívida de amor para com os negros, e Deus ordenou que ela deve restituir o erro que cometeu no passado. Aqueles que não tomaram parte ativa na aplicação da escravidão sobre as pessoas negras não estão livres da responsabilidade de fazer esforços especiais para remover, tanto quanto possível, o resultado inevitável de sua escravidão.”[12]

Mervyn Warren, reitor aposentado da Universidade de Oakwood, instituição educacional adventista com prevalência negra, afirma que a instalação da “Oakwood Industrial School [fundada no fim do século 19] se tornou a prova da justiça social promovida pelos adventistas do sétimo dia, conforme percebida por Ellen White”.[13]

Para pensar 

A trajetória adventista revela equilíbrio entre a esperança futura e o trabalho presente. O enredo bíblico da criação, queda e redenção deve ocupar espaço de honra no coração daqueles que desejam um mundo melhor. Esse complexo, que dá base às estruturas do grande conflito, afasta o homem da tentação de crer nos próprios esforços, seja para a salvação, seja para a melhora da terra, mas também nos afasta da indolência.

Nossas instituições e vocações individuais servem para a glória de Deus e serviço ao próximo. Nosso envolvimento com a sociedade, cultura, artes, educação e mercado são parte de nossas responsabilidades. Entretanto, não devemos crer em nenhum desses esforços como o meio de remir a humanidade de seu estado. A libertação do homem envolve soteriologia e escatologia bíblicas, não as formulações ideológicas.

Conforme ensina Knight, a “única resposta suficiente e permanente para as dificuldades humanas que envolvem um mundo perdido, conforme Cristo ensinou tanto nos evangelhos quanto no livro do Apocalipse, seria Seu retorno nas nuvens do céu. Em Sua volta há verdadeira esperança. O resto não passa de simples paliativo”.[14]

Momentos de crise econômica e moral, como o que vivemos hoje, servem para que desejemos ainda mais o desfecho divino para a história humana, prometido por Deus. Quando comparadas com essa promessa, as ideologias são reveladas como esperanças apóstatas e concorrentes ilusórias para a verdade.

(Davi Boechat é jornalista e colaborador da revista Vida e Saúde; Portal Adventista)

Referências:

1. Midnight Cry, 17 de novembro de 1842, p. 1.

2. KNIGHT, George. Adventismo: origem e impacto do movimento milerita, p. 20. Casa Publicadora Brasileira, 2015.

3. TEIXEIRA, Carlos Flávio. Repensando a Religião: Debates Sobre Teologia, Estado e Religião, p. 192. Unaspress, 2011

4. Ibidem.

5. Ibidem.

6. MANGALWADI, Vishal. O Livro que fez o seu mundo: como a Bíblia criou a alma da civilização ocidental, p. 308. Editora Vida, 2013.

7. Ibidem.

8. Portadores de Luz, p. 52. Unaspress, 2016.

9. KNIGHT, 2015, p. 123.

10. JONES, Alonzo T. A Lei Dominical Nacional, p. 23. Editora dos Pioneiros, 2015.

11. Ibdem, p. 97.

12. Ellen G. White, Review and Herald, 21 de janeiro de 1896, em The Southern Work, p. 54.

13. Thompson, Jonathan A.. Social Justice (p. 36). Pacific Press Publishing Association. Edição do Kindle.

14. KNIGHT. A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo, p. 105. Casa Publicadora Brasileira, 2015.

Os males do nacionalismo cristão

O nacionalismo religioso se concentra na promoção e proteção da religião cristã evangélica em uma determinada nação. Isso pode incluir a implementação de leis e políticas baseadas no evangelicalismo, a promoção de programas educacionais e culturais, e a defesa de práticas e costumes evangélicos. Mas, tudo isso, desprezando os valores da democracia liberal.

É fruto de uma leitura errônea do conceito de “nação cristã” ou “nação escolhida”. A ideia de “nação escolhida” é uma expressão bíblica que se refere ao povo de Israel, que, conforme a tradição judaica e cristã, foi escolhido por Deus para ser um povo especial e receber a graça de Deus. Segundo a Bíblia, Deus escolheu o povo de Israel para ser um exemplo para outras nações.

Mas, conforme as Escrituras, apenas Israel serviu a Deus como nação escolhida. Depois de Israel, não houve, não há, nem haverá nação escolhida. Qualquer leitura que faça em qualquer país usurpa o papel da Igreja como nação escolhida. A Igreja não é nacional, mas transnacional; não é parte de uma cultura, mas abarca todas as culturas. Os nacionalistas cristãos querem fazer de sua nação um novo Israel, mas o novo Israel é a Igreja de Jesus Cristo.

O nacionalismo evangélico é também sedutor para muitos pastores e líderes da Igreja. Afinal, é uma forma de exercer poder. Mas, como todo tipo de poder, está envolto em vários perigos: 

1) Falta de humildade: geralmente produz arrogância e superioridade religiosa, contrária aos ensinamentos bíblicos de humildade e amor ao próximo. 

2) Desvio da missão: desvia a missão cristã e da mensagem do Evangelho a todas as pessoas e foca na defesa de interesses nacionais e eleitorais.

3) A polarização: leva a uma polarização religiosa e política na sociedade, prejudica a unidade e o diálogo entre diferentes grupos. Além disso, a polarização namora as obras da carne ao cultivar dissensão, ira e sectarismo.

4) Foco na política em vez da espiritualidade: o radicalismo leva os evangélicos a se concentrarem mais na política e no poder terreno do que na vida espiritual e no amor ao próximo. É excessivamente ativista e pouco piedoso; é engajado, mas nada generoso; é transtornador, mas nada transformador. 

5) Perigo de misturar religião e política: leva a conflitos e violência, e que os evangélicos devem se concentrar em praticar sua fé de forma pacífica e respeitosa. Embora seja impossível cultivar uma religião neutra politicamente, é necessário separar Igreja e Estado, fé e política. Separar não é divorciar completamente, mas é saber discernir quando a aproximação é saudável ou não.

6) Dependência da cultura do medo e teorias conspiratórias: o nacionalismo cristão, como todo nacionalismo, precisa de inimigos, nem que sejam inimigos imaginários inventados em teorias conspiratórias. Em sua guerra cultural, os nacionalistas respiram ameaças e vivem em um mundo binário de constante estado de conflito. 

Jesus elogiou os pacificadores. Paulo disse que a nossa luta não é contra carne e sangue. O cristianismo nos ensinou que o amor é mais forte do que o poder das armas.

(Gutierres Fernandes Siqueira é teólogo e jornalista; autor do livro Quem Tem Medo dos Evangélicos?)

O que você precisa saber sobre política

Nunca estivemos tão divididos como agora, e polarização não é apenas a palavra que não quer sair de moda: é a nossa mais infeliz definição.

politica

Parece que política é a palavra do momento. Quem diria que, no país do futebol, chegaríamos a uma situação em que, em um ano de Copa do Mundo, poucos são os que sabem a escalação da seleção canarinho, enquanto a maioria conhece em detalhes as biografias dos 11 ministros da suprema corte… Pouco se discute sobre o pífio desempenho do Brasil na Rússia quatro anos atrás. Poucos conhecem Adenor Leonardo Bachi (Tite) por seu nome, e ninguém atribui a ele nossa eliminação precoce do torneio, aliás… alguém se lembra disso? Não há um nome à altura que o substitua, mas isso pouco importa, porque as atenções de dez em cada dez brasileiros estão mesmo voltadas para a escolha do dirigente máximo da nação: o presidente da república. Neymar & cia que esperem.

Analisando o cenário, Marcos De Benedicto nos traz, com a maestria de quem faz com a palavra escrita algo semelhante às melhores jogadas de um Zico, um livro que, embora não tenha sido aguardado como um álbum da Copa, chega num momento crucial, como se fosse a figurinha do nosso camisa 10. Como todos sabemos, nunca estivemos tão divididos como agora, e polarização não é apenas a palavra que não quer sair de moda: é a nossa mais infeliz definição.

Testemunhamos algo singular, pois vivemos um momento em que amizades são interrompidas como um jogo que se perde por WO; parentes fazem marcação individual cerrada nas redes sociais de forma implacável, com entradas duras, dignas de zagueiros de várzea; pais e filhos trocam farpas e até cônjuges ultrapassam os limites de um cartão vermelho. Neste contexto surge um livro capaz de nos fazer parar e avaliar se esse realmente é o jogo da nossa vida.

E o autor inicia nos mostrando que a política, como a conhecemos, é mais antiga que sua origem oficial entre os gregos. A própria Bíblia, mesmo não tendo a política como objeto, nos mostra situações em que a política ocorre como parte natural da existência, e nos dá alguns princípios interessantes pelos quais temos elevada estima, como a separação entre Estado e Igreja, ou o conceito de liberdade de fé e consciência. Uma breve visão adventista quanto a política e a ética cristã (bíblica) também nos auxilia a ver a questão de forma absolutamente distinta e distante das paixões e do componente irracional que movem o debate atual.

Uma jogada de craque pelo meio campo leva o autor a fazer um verdadeiro gol de placa nos capítulos 4 e 5, onde trata de dois conceitos geniais: a teologia do poder e a política da religião. Aparentemente, nos soa contraditória a existência de uma teologia do poder, mas, além de genial, a ideia coloca os definitivos “pingos nos is” quanto ao que realmente importa em relação ao poder e à autoridade que o concede. E a política da religião, existe? Afirmo sem medo de errar que, se nossos líderes políticos lessem apenas esses dois capítulos, estariam no caminho certo para marcar o famoso gol que Pelé não fez.

Sem perder o ritmo e mantendo o esquema tático, Marcos De Benedicto trata de outros temas igualmente interessantes, porém, mais profundos, e que exigem um pouco mais de fôlego, preparo físico e intelectual, como a batalha dos impérios (ou seria a batalha dos aflitos?), em que nos mostra a origem histórica e sociológica da atual polarização, e uma aula sobre a filosofia da história. Sua conclusão nos dá uma ideia do que seria a política dos sonhos, mas… tenho aqui o desprazer de te despertar e te trazer para o real, este “agora” conflituoso que vivemos, com duas questões, uma delas bem mais mundana.

Para os meus amigos que preferem assistir a um jogo de segunda divisão, achando que tudo não passa de uma disputa entre o capitalismo e o socialismo (ou qualquer outro “ismo”), cito uma frase atribuída ao economista mais cínico que o mundo já conheceu, John Kenneth Galbraith: “No capitalismo, temos a exploração do homem pelo homem. Já no socialismo ocorre exatamente o inverso.

Já para os que preferem assistir a uma final da “UEFA Champions League”, uma questão mais elevada: O que devo fazer se o candidato que eu apoio perder a eleição? E se a partir de 2023 a minha vida não for exatamente aquela que eu gostaria que fosse?

Minha resposta é resultado do que aprendi nesse livro.

Já passamos dos noventa minutos do segundo tempo e entramos nos acréscimos. A torcida está de pé, o estádio balança e as estruturas físicas das arquibancadas parecem sentir o peso de todo o universo criado por Deus, que em suspense aguarda pelo apito final. Apesar de estar perdendo no placar, o adversário é desleal, e na impossibilidade de ganhar o jogo está partindo para a violência. Mas o Capitão do time vencedor permanece firme, orientando um, levantando outro que caiu, incentivando os que estão cansados e renovando as forças de todos. Ele está no gol, e com os braços abertos defende todos os ataques do adversário. A cada defesa se vê em Suas mãos as marcas da partida. A qualquer momento se ouvirá o apito final. Jogadores e torcedores estão com o coração na mão, segurando uma explosão de ansiedade

Mas, e a eleição presidencial? Pois é… Não sei o que você fará se o seu candidato for derrotado. Quanto a mim, uma certeza tenho: O GRANDE JOGO DA MINHA VIDA É OUTRO!

(Mateus Alexandre Castanho, departamento de Publicações da IASD Central de Brasília)

O Que Você Precisa Saber Sobre Política (Casa Publicadora Brasileira)

“De um lado, temos políticos apoiados por pastores vendilhões propagadores da nefasta teologia da prosperidade, que distorcem a Palavra de Deus e a usam para enriquecer e ampliar seu império terreno. De outro, temos políticos apoiados por teólogos progressistas que negam a inspiração de textos fundamentais da Bíblia e se apegam a ideologias que negam o cristianismo. Ao povo de Deus resta lembrar que o reino de Cristo não é deste mundo, que nossa esperança real vem de Cima e que as profecias caminham para o seu cumprimento.” Michelson Borges

Os adventistas e a política. Em quem devo votar?

A relação entre política e religião

As duas faces do protestantismo apostatado

Para o diabo tanto faz se a apostasia vem pela atuação da besta do mar ou se pela besta do abismo e as ideologias identificadas com a subversão promovida por ela.

Historicamente, os adventistas do sétimo dia sempre entenderam que o protestantismo apostatado denunciado por Ellen White em obras como O Grande Conflito fosse a direita cristã interessada no fim da separação entre a igreja e o Estado. E essa interpretação obviamente está correta (leia Apocalipse 13, de Marvin Moore). De fato, adeptos da teologia do domínio sempre quiseram trazer a Idade Média de volta, desejando que a religião (oficial) tomasse conta da política e da sociedade. O que ocorre é que, como a história já mostrou, os grupos minoritários que não concordam com essa união nefasta e com os dogmas impostos acabam sofrendo duramente. No passado, muitos até perderam a vida por causa disso. No futuro, novamente os fiéis à Palavra de Deus serão perseguidos.

Ocorre que existe outra face do protestantismo apostatado que acaba enganando outro tanto de pessoas, noutra extremidade do espectro político: a religião progressista identificada com a esquerda e com as teologias de libertação e pautas identitárias. Semelhantemente à direita conservadora religiosa (protestante ou papista), os cristãos progressistas acabam desprezando a Bíblia e acolhendo ideologias humanas (os da direita adotam dogmas, os da esquerda, ideologias). Para o diabo tanto faz se a apostasia vem pela atuação da besta do mar e do vinho de doutrinas corrompidas que ela distribui, ou se pela besta do abismo e as ideologias identificadas com a subversão promovida por ela (veja). Desde que o inimigo consiga afastar as pessoas da Palavra, tá valendo pra ele.

O protestantismo apostatou quando abandonou princípios como o Sola Scriptura para dar as mãos ao humanismo corrompido. Apostatou quando, imitando o catolicismo medieval e se aproximando de novo dele, largou a mão de Deus e passou a confiar no poder político. Apostatou quando, em lugar de atuar em favor dos mais frágeis e desfavorecidos com base nos princípios bíblicos, passou a fazer da “justiça social” sua religião, fundamentada em ideias antibíblicas limitantes e, em alguns casos, até neopagãs.

Solução para tudo isso? Voltar à Bíblia e adotar as verdades e os valores redescobertos a partir da “nova reforma protestante” do século 19 – aquela que Satanás faz de tudo para anular, neutralizar, castrar.

Conforme escreveu o físico Eduardo Lütz: “Nós, como igreja, não somos nem direita, nem esquerda, mas algo completamente diferente. Por sinal, a direita apenas manipula o conceito de religiosidade para tirar vantagem disso. Esquerdistas também se dizem religiosos, mas mostram outros princípios na prática. O verdadeiro cristianismo está muito acima de tudo isso.”

Michelson Borges

Liberdade ameaçada – de lá e de cá

Teologia do domínio e ideologias identitárias são mais parecidas do que parece

Um deputado religioso quer proibir por lei “mudanças na Bíblia” (esquecendo-se aparentemente de que as Bíblias católicas têm livros a mais e que existem Bíblias em linguagem atual) (confira). Uma escola cristã em MG é alvo de ação civil por orientar os pais sobre ideologia de gênero (confira). No primeiro caso, há franca violação do conceito de Estado laico e dominionismo em ação. No segundo, ameaça à liberdade de crença e de expressão (leia o que publicou a Anajure). Evidentemente que é preciso respeitar a Bíblia, mas que isso fique nos domínios das religiões e não da política. Evidentemente que se deve combater a homofobia e a intolerância e respeitar os “diferentes”, mas que se respeite também o direito de discordar educadamente.

A teologia do domínio procura por vias políticas impor dogmas, conceitos, padrões (e eventualmente procurará impôr um dia oficial de descanso, já sabemos qual). As ideologias e teologias identitárias e da libertação relativizam a autoridade da Bíblia e, em muitos casos, lutam para impor um pensamento que desejam seja hegemônico. A ecoteologia da libertação ganha força e logo deverá lutar pela imposição de um dia de descanso para a “Mãe Terra”, já sabemos qual).

Muitas vezes os extremos são mais semelhantes do que parece à primeira vista…