Ciência e religião são compatíveis?

A ciência e a Bíblia são sexistas?

inferiorA revista Veja [anos atrás] publicou uma entrevista interessante com a jornalista inglesa especializada em ciência Angela Saini, aproveitando como “gancho” o lançamento do livro dela, Inferior: How Science Got Women Wrong (Inferior: Como a ciência se enganou com as mulheres, em tradução livre). Saini afirma que a ciência nasceu dentro de um contexto cultural em que a mulher era vista de forma diferente do homem, em uma sociedade sexista que fragilizava e inferiorizava o feminino. “Então, não é surpreendente que a ciência tenha seguido o mesmo caminho, reproduzindo estereótipos e baseando seus estudos em suposições herdadas da sociedade”, diz ela, deixando claro que, a despeito de sua especialização, não compreende o que é ciência. Mas tem mais: Saini também não compreende a religião bíblica.

Quando lhe foi perguntado se a forma como a religião retrata a mulher influenciou a ciência supostamente sexista, ela respondeu que sim, e definiu a religião que, para ela, é machista: “Adão e Eva foram a fonte primária de informação sobre a relação entre homem e mulher para o mundo cristão.” Para ela, a história do primeiro casal reforçaria o estereótipo da mulher como segundo elemento. Mas de onde ela tirou essa ideia? Escolher o relato da criação foi um tiro no pé em seu discurso feminista. Se ela ainda tivesse usado passagens bíblicas pós-pecado que refletem a ascensão diabólica do machismo e a subjugação da mulher por homens pecadores, ainda daria para compreender (deixando de lado o fato de que quando a Bíblia descreve aspectos culturais reprováveis não significa que Deus os esteja aprovando).

No relato bíblico da criação fica evidente que a mulher – a obra-prima de Deus, o último ser criado em uma ordem crescente de relevância e complexidade – é tão importante quanto o homem, embora ambos tivessem (e ainda têm) funções diferentes. O fato de ser usada no relato a palavra “ajudadora” ou “adjutora idônea” não diminui em nada a esposa de Adão. Na verdade, a expressão original hebraica ezer kenegdo também é aplicada a Deus como nosso ajudador. Isso significa que o Senhor é inferior a nós? Claro que não!

Infelizmente, Saini parece entender pouco de Bíblia e menos ainda de ciência. Como é muito comum, ela confunde ciência com filosofia ou paradigmas, e pensa que as afirmações dos cientistas equivalem à ciência. Esta é uma confusão recorrente: atribui-se à ciência coisas que os cientistas dizem. A ciência não diz nada. Ciência é uma caixa de ferramentas que usamos para compreender o mundo que nos rodeia. Ciência não é uma invenção humana. Não foi inventada. Foi descoberta.

A própria Saini dá um exemplo interessante na entrevista, que ajuda a compreender a diferença entre ciência e paradigma filosófico. Ela conta que em 2013 um grupo de cientistas da Universidade McMaster publicou um artigo sobre a origem da menopausa no qual afirmam que a mulher deixa de menstruar na meia-idade porque os homens não mais as consideram atraentes, sendo, então, a menopausa um efeito evolutivo da falta de atração masculina por mulheres mais velhas. Para rebater essa pesquisa, a jornalista cita o trabalho de outro evolucionista, o biólogo George Williams. Para ele, a menopausa surgiu em nossa espécie como um mecanismo para proteger as mulheres mais velhas dos riscos do parto. O que há de ciência nessas afirmações? Praticamente nada. São meras opiniões evolucionistas que mostram uma casa dividida.

Para ser justo, Saini acerta no alvo em um ponto: quando afirma que Charles Darwin foi o cientista que causou mais dano para a percepção dos cientistas em relação à mulher. Isso porque o naturalista inglês afirmou categoricamente sem base alguma que a mulher seria naturalmente inferior ao homem, sustentando que as mulheres estavam atrás dos homens na escala evolutiva. Por não fazer ciência de verdade, Darwin deixou de considerar o contexto social de seu tempo, que impedia as mulheres de terem acesso à educação, à informação, à possibilidade de participar das descobertas científicas da época, etc. “O poder [das ideias de Darwin] e seu status fizeram com que suas teses embasassem muitos trabalhos de cientistas nos séculos seguintes”, diz Saini, sem perceber que, na verdade, está reconhecendo que o darwinismo contaminou muitas áreas do saber, influenciando filosoficamente inúmeras pesquisas e trabalhos.

Ao responder à última pergunta da entrevista, Saini diz que “o que feminismo está fazendo com a ciência é melhorá-la, confrontá-la. O feminismo tem ajudado a questionar estereótipos que são, justamente, irracionalidades que faziam parte da ciência”. Errado, pois, como eu já disse, a ciência não é machista nem feminista. Machistas ou feministas são os cientistas. Assim como Deus e a Bíblia não são machistas nem feministas. Machistas e feministas são as pessoas e as culturas retratadas na história bíblica.

Esses são os verdadeiros estereótipos que precisam ser derrubados. Mas não serão graças ao feminismo radical ou a qualquer outro ismo. Serão derrubados pela verdadeira religião e pela verdadeira ciência – quando as pessoas estiverem dispostas a compreendê-las.

Michelson Borges

(Publicado originalmente no blog Criacionismo.)

Katherine Johnson: a matemática da Nasa que levou a humanidade à Lua

katherineMorreu Katherine Johnson, a matemática da agência espacial norte-americana que calculou a rota da Apollo que levou a humanidade até a Lua. Tinha 101 anos. A história de Katherine Johnson e das outras mulheres negras nos bastidores da missão lunar foi contada pela primeira vez no filme “Hidden Figures”, que chegou a ser indicado para o Oscar em 2017. Corria o ano de 1966 quando Katherine Johnson desenhou milimetricamente o percurso da missão Apollo até a Lua com o poder da mente e a ajuda de uma régua, um lápis, folhas de papel e calculadoras rudimentares. “Naquela época, os computadores vestiam saias”, chegou a dizer entre risos. Depois de ter construído os pilares matemáticos da missão Mercury de 1961, que fez de Alan B. Shepard Jr. o primeiro norte-americano a passear no espaço, Katherine Johnson foi uma das responsáveis pelo primeiro passo (talvez o mais popular de todos) que colocou os Estados Unidos na linha da frente da Guerra Fria pela primeira vez – a alunissagem.

[Continue lendo.]

A grande imprensa e a academia detonariam César Lattes

lattes

Na revista Brasil – Almanaque de Cultura Popular (edição de novembro de 2006), que encontrei a bordo de um avião da Tam, havia um texto alusivo ao Dia Mundial da Ciência (24/11). A pequena matéria dizia que “se o Brasil tivesse um panteão das ciências, nele estaria o curitibano César Lattes. Nascido em 1924, só é batizado na adolescência. Judeu, o pai teme a perseguição fascista. Aos seis anos, César joga xadrez. Aos 22, pesquisa na Universidade de Bristol, Inglaterra, uma partícula do átomo, prevista mas inédita”. Lattes descobriu o méson pi e chamou atenção para a ciência nacional. Ele recebeu vários prêmios, mas não o Nobel de Física. “Em 1950”, prossegue o texto, “fatores mal explicados dão o prêmio a Cecil Powell, seu colega de equipe inglês. Depois, com Eugene Garner, cria artificialmente o méson. Mas o parceiro morre, e a academia só premia vivos. Lattes morre em 8 de março de 2005, reconhecido como o maior cientista do Brasil. ‘Ele era para as pessoas esclarecidas o que Pelé é para o povão’, diz Iuda Goldman, seu colega de USP.”

Em agosto de 2001, o Jornal da Unicamp publicou uma entrevista com o nosso Pelé da ciência. Leia alguns trechos a seguir e depois minha nota final:

“– No princípio, Deus criou os céus e a terra.
“– Os céus e a terra, está bem? E depois criou as águas. Continue lendo…
“– A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas.
“– Tinha o céu, a terra e as águas. Então, o que Ele disse?
“– Deus disse: ‘Faça-se a luz.’
“– Ele estava no escuro…
“– E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou ‘dia’ a luz e às trevas, ‘noite’. Assim surgiu a tarde e em seguida a manhã. Foi o primeiro dia.
“– Está bom? Então você queria saber sobre a origem do Universo? Está aqui a origem do Universo. Você conhece, já ouviu falar desse livro?”

“Foi assim que começou o diálogo entre uma repórter e o físico Cesar Lattes, professor emérito da Unicamp. O peso do livro do Gênesis foi maior que o dos livros todos reunidos na Bíblia pousada sobre o sofá, lida pela jornalista a pedido do cientista. […]

“Em 1947 Lattes descobriu o méson-pi, depois de expor chapas fotográficas muito sensíveis, conhecidas como emulsões nucleares, à altitude de 5,6 mil metros do Monte Chacaltaya, na Bolívia, onde a detecção dessas partículas seria presumivelmente mais favorável. ‘Mas mais emocionante foi detectar os mésons produzidos artificialmente, com Eugene Gardner, em Berkeley’, relembra o mestre.”

“Verbete da Enciclopédia Britânica, Lattes dizia aceitar a Bíblia como a origem da matéria. Curitibano, foi um dos criadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e tornou-se professor da Unicamp em 1967.”

Em resposta à jornalista, Lattes também criticou o conceito popular de Big Bang (segundo o qual o Universo teria começado em uma grande explosão), para então afirmar que Deus criou a matéria. “Se a teoria do Big Bang ainda é aceita, não em sua essência, mas em algumas nuances, podemos questionar de onde veio a matéria antes da grande explosão… Deus criou. E eu não brigo com astrônomos por isso.”

Como se pode ver, o homem que dá nome à maior plataforma de currículos virtuais do Brasil, criada e mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, acreditava em Deus e na Bíblia Sagrada, como muitos outros cientistas do passado e do presente; como os próprios pioneiros da ciência – Newton, Galileu, Copérnico, Pascal… No entanto, isso não impediu que Lattes pudesse lecionar na prestigiada Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e se destacar no campo da ciência.

Se fosse hoje, com o crescimento da atuação da militância anticriacionista, além de César Lattes ser impedido de falar no campus, digamos, sobre o design inteligente do Universo, imagine o que aconteceria se ele fosse indicado para presidir, digamos, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação… A grande imprensa “cairia de pau” nele e em quem o indicasse. Alguns vociferariam: “Como pode colocarem um fundamentalista religioso desses para dirigir uma instituição ligada à ciência e ao ensino?” “Ele acredita em Deus e na Bíblia! Não deve ser um cientista de verdade.” “Onde se viu um físico acreditar na Bíblia!” “Criacionistas, que creem que Deus criou o Universo e a vida, e defensores da teoria do design inteligente não sabem fazer boa ciência.” E por aí vai.

Ainda bem que isso tudo é só imaginação

Michelson Borges

Homossexualidade: não devemos olhar só para os genes

dnaNovas pesquisas sobre homossexualidade e genética precisam ser analisadas a partir de um olhar técnico. O que realmente há de sólido neste assunto?

Sempre que surge um novo estudo sobre o tema da homossexualidade associado à genética, muita especulação e notícias sensacionalistas são veiculadas. Muitas delas adotam, por vezes, um claro viés ideológico. Não foi diferente com o estudo Large-scale GWAS reveals insights into the genetic architecture of same-sex sexual behavior. O material foi publicado no prestigiado periódico Science no dia 29 de agosto desse ano. O estudo foi liderado pela cientista Andrea Ganna, e contou com a colaboração de pesquisadores das principais universidades do mundo (por exemplo Harvard, MIT e Cambridge). É uma pesquisa que demonstra metodologia robusta e um grupo amostral respeitável de quase 500 mil pessoas. É considerado, ainda, o maior estudo já realizado que se propôs a investigar a base genética da sexualidade humana.

[Continue lendo.]

Terraplanistas reavaliam posição sobre formato da Terra

Nota: Fiquei muito feliz em ver que ainda há pessoas de mente aberta e com humildade e honestidade intelectual suficiente para se permitir o questionamento. Isso é ser um bom e verdadeiro cético. Parabéns, Deco e Kelly! Que o bom Deus os fortaleça para enfrentar a avalanche de críticas. [MB]

Isaac Newton era ocultista?

isaac_newtonJá escutou que Isaac Newton, que para muitos foi o maior cientista de todos os tempos, não era cristão, mas um praticante do ocultismo e da alquimia? Há bons esclarecimentos no vídeo abaixo, feito por Gabriela P. Bailas, uma física brasileira que cursou seu doutorado em Física na França e faz pós-doutorado na High Energy Accelerator Research Organization, uma espécie de CERN do Japão. Ela não declara ser ou não religiosa, mas é mais equilibrada que muitos ditos religiosos, inclusive não vendo problema nos estudos que Newton fez da Bíblia. Chega mesmo a comentar a visão dele de buscar unir ciência e religião como não sendo algo anticientífico, mas uma motivação pela curiosidade, pelo rigor e pela busca por desenvolver tudo que fez em direção à verdade. Ela também comenta a acusação de que Newton teria feito parte da sociedade secreta chamada Rosa-Cruz.

Bom vídeo para desmistificar os ataques de terraplanistas contra Newton. Para negar a teoria da gravidade (que destrói totalmente o terraplanismo), eles acabam atacando a vida pessoal de Newton (argumento ad hominem para tirar a credibilidade da mensagem de alguém), dizendo que ele recebeu essa teoria de anjos caídos para esconder do mundo que a Terra é plana [!], algo que para os terraplanistas é, em geral, o único jeito de tornar o ser humano um ser especial aos olhos de Deus. Esqueceram o que significa a cruz e quão suficiente ela é para nos mostrar que somos especiais para Deus. 

terraplanismo é um “bom” exemplo do que acontece quando falsa religião e falsa ciência se unem: negação de diversas realidades básicas.

Josué Cardoso

Leia mais sobre Isaac Newton aqui.

Terra plana: resposta ao Afonso Vasconcelos

afonsoRecentemente, publiquei em meu canal no YouTube um vídeo com o título “Desafio aos terraplanistas”, no qual ofereço uma resposta a um engenheiro que me escreveu em privado questionando o formato redondo (globo) da Terra. Em respeito a esse terraplanista, pedi que meu amigo astrofísico e engenheiro de software Eduardo Lütz escrevesse alguma coisa, e ele se empolgou: redigiu um documento de 118 páginas, disponível aqui. O único terraplanista de destaque que afirma ter lido o artigo do Lütz foi o geofísico Afonso Vasconcelos, cujo canal é citado por onze de cada dez terraplanistas brasileiros. Agradeço-o por ter dedicado tempo para analisar um material que foi preparado com dedicação e de maneira respeitosa. Que outros defensores da Terra plana sigam esse exemplo do Afonso.

Não conheço pessoalmente o geofísico youtuber, mas o respeito como ser humano e só resolvi responder ao vídeo dele porque, em lugar de começar analisando os argumentos técnicos do Lütz, ele tenta descredibilizar tanto a mim quanto ao meu amigo físico, num típico exemplo de argumentação ad hominem, em que se ataca a pessoa, deixando suas ideias em segundo plano. Há vários vídeos sobre Terra plana em meu canal (confira), e em nenhum deles me dirijo a pessoas, tratando unicamente de ideias. Esta será a única vez que abro uma exceção.

Farei a seguir uma breve análise do vídeo de 31 minutos em que ele comenta a introdução do texto do Lütz:

  1. Logo aos 10 segundos de vídeo, ele projeta na tela os dizeres “físico ‘criacionista’ que defende o modelo da bola molhada giratória”. Por que colocar a palavra “criacionista” entre aspas?Aos 7’10”, ele afirma que Lütz “se diz criacionista”, e em seguida sugere que ele seria “criacionista nutella”. Desde os anos 1990, Eduardo Lütz tem defendido o criacionismo bíblico como poucos têm feito. Ele apresentou inúmeras palestras, escreveu vários artigos sobre criacionismo e temas correlatos. Eu sou testemunha pessoal da grande sabedoria e da humildade desse cientista servo de Deus. Não é justo chamá-lo de criacionista entre aspas, quando os que o conhecem sabem que ele é um criacionista com C maiúsculo, que decidiu dedicar a vida a essa causa muitos anos antes de existirem youtubers.
  1. Ao 1’14”, Afonso diz que eu “odeio” a Terra plana. Na verdade, tenho aversão (essa é a melhor palavra) a qualquer tipo de pseudociência, como astrologia, parapsicologia, certas “medicinas alternativas”, e o terraplanismo entra nesse pacote. Assim como tenho aversão por heresias e dogmas antibíblicos que posam de bíblicos. Por quê? Pelo potencial que essas coisas têm de cegar as pessoas e as afastar da verdadeira ciência e da verdadeira teologia. Além disso, atraem o escárnio e o desprezo à Bíblia, que nada tem que ver com essas ideias esdrúxulas. Prova disso é que o YouTube já está restringindo vídeos de desinformação e considerados conspiratórios, como os que tratam da Terra plana (confira). Podemos imaginar que essa restrição acabará sendo estendida aos vídeos criacionistas, por falsa associação. Parabéns, terraplanistas!
  1. Ao 1’29”, Afonso mostra o meu vídeo com o desafio aos terraplanistas, que estava com “apenas” 7,1 mil visualizações. De fato, esse vídeo não está entre os mais visualizados do meu canal, talvez porque as pessoas que me seguem estejam preocupadas com coisas mais importantes. Afonso parece tentar medir a relevância do meu conteúdo pelos views, já que em seguida diz que meus vídeos sobre terraplanismo “não traz[em] conhecimento”, embora depois elogie o vídeo de outra pessoa, com exatamente a mesma quantidade de visualizações…
  1. Aos 4’36”, Afonso começa a falar sobre o currículo do Eduardo Lütz, que há muitos anos trabalha como engenheiro de software e faz tempo que não leciona, não tendo, portanto, o Currículo Lattes. Incensado pelos terraplanistas, o filósofo Olavo de Carvalho também não tem Currículo Lattes. Só pra lembrar…
  1. Aos 5’55”, Afonso reclama que eu não apresentei o e-mail original que deu origem ao texto do Lütz, sugerindo que teríamos inventado a mensagem. Não revelei o nome do engenheiro pelo mesmo motivo que até hoje me levou a nunca divulgar nomes de pessoas que me procuram em privado. Não seria ético revelar a identidade do indivíduo. Em lugar de se ater aos argumentos da resposta do Lütz, Afonso continua se esforçando para lançar dúvidas sobre nosso conhecimento e idoneidade. Isso é lamentável. Ele induz seus seguidores a lerem o material com desconfiança e preconceito.
  1. Aos 7’48”, Afonso considera “top” o autor do e-mail pelo fato de ser engenheiro, mas não pergunta pelo Lattes dele nem sugere que ele seja “nutella” ou coisa parecida. Basta ser terraplanista para o indivíduo já ser respeitado pelo geofísico, independentemente do currículo.
  1. Aos 7’55”, o youtuber terraplanista levanta a primeira cortina de fumaça, detendo-se em um detalhe insignificante: o fato de Lütz ter dito que o engenheiro se converteu ao terraplanismo. E pergunta: “Vocês se converteram ao criacionismo?” De minha parte, respondo sem hesitar: sim, convenci-me e converti-me. Fui evolucionista até minha juventude, até que conheci um modelo das origens muito melhor e mais coerente, que integra a boa ciência e a boa teologia. Abracei o criacionismo no começo dos anos 1990 e desde então tenho feito o que posso para divulgar esse modelo conceitual. Mas Afonso gasta tempo considerável para tentar mostrar que o terraplanismo não é filosofia nem religião, comparando-o a áreas de pesquisa como o desenvolvimento de cristais e a nanotecnologia, para desespero dos que lidam com essas coisas reais. Afonso nos chama de “monstruosamente ignorantes” e mal-intencionados pelo fato de Lütz ter usado a palavra “conversão”, e nos compara a “tartarugas”.
  1. Aos 12’34”, a segunda cortina de fumaça é levantada e vai ocupar o restante do vídeo: Afonso induz seus seguidores a pensar que Lütz afirmou no texto que as escolas só ensinam verdades, quando o que ele disse, em resposta ao engenheiro, foi, obviamente, que ensinam a verdade de que a Terra é um globo. Afirmar algo diferente disso é pior do que nos chamar de tartarugas sem Currículo Lattes.
  1. Aos 13’05”, Afonso vem com a pergunta “O que é a verdade?”, e me desafia a gravar um vídeo explicando o que para mim é a verdade. Ele diz que, para ele, a verdade é a Bíblia (mais especificamente a Torá). E eu respondo que, para mim, obviamente, também é a Bíblia (João 17:17), e, mais específica e especialmente, Aquele de quem as Escrituras dão testemunho e que de Si mesmo disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6). Se pesquisasse em meu canal, o geofísico descobriria que gravei 26 vídeos de uma série intitulada “O Resgate da Verdade” (confira), na qual exalto a Bíblia Sagrada e suas doutrinas. Depois de me desafiar a fazer o que já fiz, Afonso começa a tergiversar, dizendo que a escola não ensina a Bíblia e, portanto, não ensina a verdade. Que nas escolas se ensina a ideologia de gênero e os alunos são estimulados a ouvir funk. Isso não tem absolutamente nada a ver com o que o Lütz escreveu, já que o assunto do documento “Ajuda a um terraplanista” é o terraplanismo. No entanto, esse passa a ser o tema do vídeo do Afonso até 30’35”. Ou seja, em um vídeo de 31’06”, ele gasta 17’03” para falar de algo que foge totalmente da discussão, desperdiçando quase 55% do tempo do vídeo – e do nosso tempo. Isso se caracteriza como a conhecida “falácia do espantalho”, “argumento em que a pessoa ignora a posição do adversário no debate e a substitui por uma versão distorcida, que representa de forma errada essa posição. A falácia se produz por distorção proposital, com o objetivo de tornar o argumento mais facilmente refutável, ou por distorção acidental, quando o debatedor que a produz não entendeu o argumento que pretende refutar. Nessa falácia, a refutação é feita contra um argumento criado por quem está atacando o argumento original; não é uma refutação do próprio argumento original. Para alguém que não esteja familiarizado com o argumento original [a maioria dos seguidores do Afonso, que certamente não leu o texto do Lütz], a refutação pode parecer válida, como refutação daquele argumento” (fonte).
  1. Aos 17’36”, Afonso mostra rapazes vestidos de saia e meninas usando gravatas em uma escola do México, para então sugerir que os responsáveis por isso são a “bola molhada giratória”, o “darwinismo” e “cia”. O que a Terra redonda (globo) tem que ver com essas questões morais? Por que tentar relacionar uma coisa com a outra? Eu jamais iria sugerir que terraplanistas são imorais por adotarem essa ideia pseudocientífica.
  1. Aos 20’46”, ele sugere que sinônimo de verdade para o Lütz e para mim seria a NASA, e para ele, a Bíblia; e dá uma risada de deboche. Depois pergunta se eu faço vídeos contra o darwinismo “só por causa dos cliques”. Creio que nem vale a pena responder esse tipo de escárnio. Melhor manter mais alto o nível da discussão.
  1. Quando cheguei aos 22’40”, uma curiosidade me veio à mente: Será que Afonso guarda o sábado do quarto mandamento da Torá? Sim, porque ele afirma que toda a Bíblia serve para validar a Torá e que o Messias também veio validar a Torá. Terraplanistas costumam ser tão literalistas (até demais) com respeito às Escrituras, mas nunca os vejo defendendo o memorial da criação, o santo sábado. Bem, foi apenas curiosidade…
  1. Aos 27’28”, Afonso faz outra “pergunta espantalho” que nada tem que ver com o texto do Eduardo Lütz: “Qual o seu objetivo, quando você manda seu filho para a escola?” Então ele cita algumas ideologias típicas da educação comum, como darwinismo, comunismo e feminismo, e diz que o objetivo dele para os próprios filhos é que eles se desenvolvam como pessoas inteligentes, aprendam um ofício para ganhar o sustento e tenham uma família. Já que ele me perguntou, eu respondo: a educação que eu escolhi para meus filhos, embora não seja perfeita, tem exatamente essas qualidades que ele destaca, e se chama educação adventista.

Espero que nos próximos vídeos prometidos o Dr. Afonso se atenha estritamente às ideias e aos dados apresentados no texto do Lütz, e abandone os argumentos ad hominem e a falácia do espantalho. Creio que nós e os seguidores dele merecemos isso.

Falando em seguidores, resolvi ler alguns dos inúmeros comentários ao vídeo do Afonso, mas não avancei muito ali, pois estavam me fazendo mal. São muitas palavras desrespeitosas, arrogantes e maldosas. Pessoas que não me conhecem julgando meu caráter pelo fato de eu defender a esfericidade da Terra. Isso é cristianismo? É esse tipo de ética e respeito que o terraplanismo ensina? É por esse e outros motivos que não deixo habilitada em meu canal a função comentários – preciso manter minha saúde emocional, tenho meu trabalho (o canal e as demais redes sociais são uma atividade voluntária) e, principalmente, tenho que me dedicar à minha esposa e aos meus filhos.

Já que Afonso valoriza tanto currículos, vou publicar aqui a análise do meu amigo doutor em Física e especialista no estudo do movimento de corpos celestes do Instituto de Tecnologia de Israel, Josué Cardoso dos Santos. Segundo o Dr. Josué, Afonso usa “uma tática velha de retórica, em que você tenta desqualificar o oponente ao (1) procurar limitações na formação (como se ele fosse menos capaz que Afonso por não possuir o doutorado que ele possui), utilizando o argumento de autoridade de forma conveniente, pois quando possuem menos formação aí são ‘ignorantes’; se possuem melhor formação, aí busca-se desqualificá-los, dizendo que a formação não é importante; ou força-se alguma conexão da pessoa com conspiração; (2) desqualificar a pessoa procurando falhas na vida dela para tentar manchar a reputação, tirando a credibilidade pública dela de maneira que as pessoas já desconfiem a priori do que ela fala e não analisem friamente os argumentos (o que dizer da reputação de tantos personagens da Bíblia, como Abraão, Moisés, Davi, Salomão e Paulo? Suas terríveis falhas passadas não os impediram de dizer grandes verdades. Não é o mensageiro que torna a mensagem verdadeira, mas o conteúdo dela em si. Deus usou até mesmo ímpios para pregar verdades quando o povo de Israel estava de coração endurecido. E o próprio diabo pode dizer verdades. Além disso, lembremos que as contribuições de famosos cientistas com conexão com misticismo, como é o caso de Pitágoras e Tesla, são usadas por todos nós, inclusive terraplanistas, até hoje. Mesmo que muito do que fizeram esteja claramente ligado ao misticismo, ninguém, nem mesmo os terraplanistas, deixa de usar ou nega a validade do teorema de Pitágoras ou dos estudos sobre eletromagnetismo de Tesla); (3) usando a já citada falácia do espantalho, distorcendo as palavras da pessoa para sentidos que não foram os originais (isso é falso testemunho, segundo a Torá), para induzir o público a ter uma opinião específica sobre a pessoa; etc.”.

“Afonso se equivoca na argumentação em diversos momentos, especialmente ignorando conceitos fundamentais e básicos de física, geometria e lógica”, continua o Dr. Josué. “Adicionalmente (e infelizmente) utiliza-se de ataques pessoais que levantam suspeita contra o caráter de outras pessoas a quem não conhece, e de forma gratuita. A verdade se sustenta por si própria e o foco deve ser concentrado nos argumentos (Deus usou uma jumenta para disciplinar Balaão em Números 22). Para além disso, esse comportamento nunca foi o que Jesus apresentou em Seu trato com as pessoas, mesmo quando elas estavam tremendamente equivocadas e até mesmo mal-intencionadas. Mesmo sabendo das intenções delas, Cristo sempre foi respeitoso, buscando discutir a informação de maneira a ajudar na salvação dos outros, mostrando a verdade ensinada na Torá de maneira prática, exemplificando como devem ser e viver os que dizem crer nele. Com essa abordagem não cristã de alguns terraplanistas, desvia-se o foco, fala-se e fala-se muito de outro assunto, e depois conclui-se (dando a falsa impressão para quem não está atento) que o assunto não abordado está correto (no caso, o terraplanismo). Falar verdades sobre algo não valida que tudo o que falamos sobre outro assunto estará correto. Essa é uma falácia lógica. Um matemático cristão não sabe mais e não fará uma cirurgia melhor do que um médico não cristão só pelo fato de ele aceitar mais os ensinamentos de Jesus Cristo que o outro. Pessoas minimamente instruídas e educadas percebem isso.”

Aliás, terraplanistas não se contentam em lançar dúvidas sobre a inteligência e o caráter de “globalistas” atuais. Eles têm feito isso também com grandes nomes da ciência, como Galileu, Copérnico e Newton. Sim, porque o modelo é mais importante do que tudo, e tem que ser defendido de qualquer ideia ou pessoa que o contrarie.

Em 2014, manuseei um manuscrito original de Isaac Newton guardado no cofre da Universidade Andrews, nos Estados Unidos (foto abaixo). E há pouco mais de um ano estive na Inglaterra pesquisando a vida e obra do cientista. Visitei a Abadia de Westminster (onde ele está sepultado); a fazenda em Woolsthorpe (a 186 km de Londres), onde Newton nasceu, cresceu e viveu alguns anos da vida adulta; e outros lugares históricos. Li biografias sobre o cientista, como o livro Newton, do famoso escritor britânico Peter Ackroyd, e O Profeta Daniel, o Cientista Isaac Newton e o Advento do Messias, do Dr. Ruy Vieira (www.scb.org.br). Mas o livro que mais me impressionou foi escrito pelo próprio Newton e publicado em 1733: As Profecias do Apocalipse e o Livro de Daniel. Newton aplicou sua mente matemática ao estudo das profecias apocalípticas, chegando a conclusões bem interessantes e alinhadas com a interpretação dos grandes nomes da Reforma Protestante e também do adventismo. Vale a pena ler esse livro a fim de perceber que o grande cientista foi também um tremendo teólogo!

manuscrito Newton.JPG

Ackroyd escreveu, na página 52 de seu livro Newton, que o cientista “estava em busca da verdade eterna. Para ele não havia contradição entre ciência e teologia. Ambas eram parte de uma mesma busca. Teologia e ciência eram, igualmente, avenidas para Deus. Eram as verdadeiras chaves para o conhecimento do Universo”. Ackroyd diz que Newton tinha trinta versões e traduções da Bíblia, e estudou hebraico para poder ler os textos bíblicos originais. Portanto, os terraplanistas que o criticam precisam ainda comer muito feijão com arroz.

Em seu livro Tempo Astronômico, Histórico e Profético (www.scb.org.br), o ex-ateu Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira, fundador e por quatro décadas presidente da Sociedade Criacionista Brasileira, uma das mentes mais brilhantes que conheço, escreveu que “a concepção de uma Terra esférica […] era algo incorporado ao conhecimento científico até o segundo século da era cristã e continuou presente até o décimo século. Como, então, veio a se tornar tão divulgado que, na época dos descobrimentos, não se sabia que a Terra era esférica, e se aceitava de maneira generalizada o conceito de uma Terra plana?” Em seu livro, o Dr. Ruy responde à pergunta que ele mesmo faz (e eu resumo a resposta neste vídeo).

Ah, e como já vimos que currículo é muito importante para o Dr. Afonso, vamos lá: um dos maiores criacionistas adventistas do Brasil, o Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira, é engenheiro mecânico e eletricista, formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Dedicou-se à carreira docente, lecionando Mecânica dos Fluidos de 1954 a 1956, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Em julho de 1956, foi lecionar Física Técnica (nome italiano dado à cadeira de Mecânica dos Fluidos, Transmissão de Calor e Aplicações Tecnológicas) na Universidade de São Paulo (USP), Campus de São Carlos, onde fez a livre docência e tornou-se catedrático. Em 1970 assumiu a chefia do Departamento de Hidráulica e Saneamento naquela universidade, fundando a pós-graduação que é considerada a melhor na área no Brasil. Foi convidado, em 1972, a integrar a Comissão de Especialistas do Ensino de Engenharia do Ministério da Educação e Cultura, responsável pelas escolas de engenharia, currículos, formação de professores, reconhecimento de cursos, etc. Representou o MEC no Conselho da Agência Espacial Brasileira, participando de suas reuniões periódicas e empreendendo viagens por locais onde se desenvolvem atividades espaciais. Atuou como consultor do Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento, junto à Secretaria de Educação Tecnológica do MEC. Foi também diretor-tesoureiro da Sociedade Bíblica do Brasil, tendo vasto conhecimento das Escrituras Sagradas. Escreveu e traduziu muitos livros.

Evidentemente que currículo e formação acadêmica são coisas importantes, mas ideias e argumentos, independentemente de quem os tenha dito, devem ser analisados à luz da verdade, dos fatos e do bom senso. Por isso quero gastar mais algumas linhas para analisar outros vídeos e outras ideias do Dr. Afonso Vasconcelos, sendo bom, mais uma vez, afirmar que o respeito como ser humano e que reconheço a formação dele. Só que ideias são ideias, e penso ser bom que os seguidores desse importante terraplanista saibam o que ele afirma sobre outros temas.

No vídeo “A Lua: entre a provocação e a ilusão”, Afonso defende o geocentrismo, diz que o Sol tem apenas 50 km de diâmetro e está a 5.000 km de altura (2’42”), que a Lua pode ser um holograma e que, portanto, é impossível pousar nela (o que torna mentirosos os norte-americanos, os russos, os israelenses, os chineses e os indianos) (13’55”); depois ele sugere que a Lua seja um tipo de prato preso no domo sólido que, segundo os terraplanistas, recobre a Terra (14’56”).

De 15’55” a 16’56”, violando a língua hebraica e citando tradições indígenas, ele afirma que o “luminar menor” mencionado em Gênesis 1:14-16 seriam as estrelas e não a Lua. A tradução literal desses versos de Gênesis é: “E disse Deus: que haja luzeiros no firmamento [palavra que também pode ser traduzida como ‘expansão’] dos céus para fazer separação entre o dia e a noite, […] e fez Deus os dois luzeiros grandes; o luzeiro grande para dominar/governar o dia, e o luzeiro [no singular] menor para dominar/governar a noite e as estrelas [no plural].” Portanto, é impossível relacionar o “luzeiro menor” com as estrelas, como faz Afonso (leia também os Salmos 8:3; 104:19; 136:9).

De 17’15” a 17’26”, Afonso menciona os tais “corpos obscuros” invisíveis a olho nu e que seriam responsáveis pelos eclipses lunares, objetos estranhamente nunca detectados nem citados na Bíblia, mas necessários para explicar o que se torna inexplicável no modelo terraplanista: os eclipses. Em 18’45”, ele diz que ninguém garante que a Lua é uma esfera (esse é um bom momento para assistir a este vídeo do meu amigo Alexsander Silva).

Sobre os mágicos e misteriosos “corpos obscuros”, é bom que se saiba que qualquer objeto capaz de ocultar a luz do Sol pode ser facilmente observado ao ocultar também a luz de estrelas. De fato, tem-se um mapeamento detalhado de objetos do sistema solar, e muitos desses objetos podem ser observados dessa maneira, apesar de serem muito menores do que algo capaz de fazer uma sombra visível na Lua. Como geofísico, tenho certeza de que Afonso sabe disso.

No vídeo “Item fundamental para o fim dos tempos”, Afonso diz, aos 36 segundos, que é fundamental comer carne no fim dos tempos, e reforça isso aos 6’27”, afirmando ainda que os demônios têm mais facilidade de acessar a mente dos que não comem carne. Dá para levar a sério uma coisa dessas?! Inúmeras pesquisas científicas têm mostrado as vantagens de uma dieta vegetariana, tanto para o corpo quanto para a mente. Até o diabo sabe que a alimentação recomendada por Deus desde o Éden desobstrui os pensamentos e, portanto, favorece a comunhão com Deus (mas claro que o inimigo usa esse conhecimento para ajudar seus servos a serem mais saudáveis e inteligentes que os servos de Deus, pois há uma guerra em curso; assim, os primeiros ficam mais receptivos e perspicazes para usar o engano, como a serpente fez no Éden, inclusive distorcendo declarações da própria Bíblia).

Aos 3’58”, valendo-se de uma má interpretação de 1 Timóteo 4:1-3, Afonso afirma que a Bíblia manda comer carne. Nesse texto aparece a palavra grega “bromaton”, traduzida por “alimento” em praticamente todos os manuscritos antigos. A palavra é traduzida como “alimento” (e não carne) em outros textos bíblicos, como Gênesis 6:21 e 44:1; Deuteronômio 23:19; 2 Crônicas 11:11; Provérbios 23:6. A King James pode ter interpretado como “carne” um termo grego que frequentemente é traduzido como “alimento”. Afonso opta por essa interpretação e defende uma ideia que vai contra as claras orientações dietéticas originais de Deus (Gênesis 1:29).

Voltando ao vídeo do Afonso em que ele critica a introdução do documento do Lütz, aos 52 segundos ele diz que “muitos adventistas” lhe pediram para comentar o texto escrito por meu amigo físico. De fato, entre as pessoas que escreveram comentários elogiosos ao vídeo do Afonso estão algumas (não muitas) que se identificam como adventistas e terraplanistas, o que me causa muita estranheza e também tristeza.

Adventistas do Sétimo Dia “raiz” (para usar uma expressão utilizada pelo Afonso) creem que Deus usou de maneira especial Ellen White para trazer mensagens importantes para Sua igreja. Ela escreveu centenas de milhares de páginas nas quais fala sobre temas variados, como educação, psicologia, medicina, teologia e ciência. No século 19, ela (que não era física, geofísica nem astrônoma) escreveu os seguintes textos, que nos interessam especialmente neste momento:

“Deus fez o Seu sábado para um mundo esférico; e quando o sétimo dia chega para nós nesse mundo arredondado, controlado pelo Sol que governa o dia, em todos os países e regiões é o tempo para observar o sábado. Nos países em que não há pôr do sol durante meses, e em que também não há nascer do Sol durante meses, o período será calculado pelos registros mantidos” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 317; grifo meu). Gravei um vídeo comentando esse texto (confira).

“A mesma energia criadora que trouxe o mundo à existência exerce-se ainda na manutenção do Universo e continuação das operações da natureza. A mão de Deus guia os planetas em sua marcha ordenada através dos céus. Não é por causa de uma força inerente que a Terra, ano após ano, continua seu movimento ao redor do Sol, e produz suas bênçãos. A Palavra de Deus governa os elementos” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 185; grifo meu). Mais claro impossível: a Terra gira em torno do Sol e não o contrário.

Assim, para a escritora inspirada Ellen White, umas das fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia e uma das escritoras norte-americanas mais respeitadas (confira), a Terra não apenas é um globo, como gira ao redor do Sol, exatamente como ensinaram as grandes mentes da ciência e da teologia ao longo dos séculos. Alguns adventistas seguidores do Afonso escreveram que eu não os represento (nunca tive essa pretensão). Ellen White também não os representa?

(Permita-me abrir um pequeno parêntesis: já que estou falando sobre um dos mais famosos terraplanistas do Brasil, creio que seja útil mencionar também outra figura que costumava – assim como o Dr. Afonso no início de seu canal – postar vídeos interessantes sobre criacionismo e design inteligente. Refiro-me agora ao físico Douglas Aleodin, que em tempos mais recentes tem deixado de lado a Teoria do Design Inteligente para falar que o homem não pisou na Lua, não deve receber vacinas e que a Terra é plana. Douglas participará em novembro do primeiro encontro de terraplanistas no Brasil, motivo que levou o fundador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente e presidente emérito da Sociedade Brasileira de Design Inteligente, o mestre em História da Ciência Enézio Eugênio de Almeida Filho, a postar em seu blog que “Douglas Aleodin não reflete a posição do Design Inteligente sobre essa questão absurda” [ou seja, o terraplanismo; confira]. Fecha parêntesis.)

Gostaria de concluir apelando aos seguidores do Dr. Afonso (na verdade, a todas as pessoas que lerem este texto) que tenham a mesma postura dos cristãos bereanos, elogiados pelo apóstolo Paulo, que escreveu: “Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram mesmo assim” (Atos 17:11). Conselho mais atual do que nunca, ainda mais neste mar de informações e desinformações em que estamos navegando hoje em dia. Não baseie suas opiniões e convicções unicamente em vídeos de internet e nas opiniões e convicções de terceiros. Saiba das coisas por si mesmo. Vá sempre à fonte e desenvolva a visão crítica.

Sabe qual seria um bom começo? Ler por si mesmo o documento escrito pelo físico Eduardo Lütz, que começou a ser tão mal analisado pelo Afonso Vasconcelos.

Bons estudos, e que o Deus da verdade conduza você à plena verdade.

Michelson Borges é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, pós-graduando em Biologia Molecular pela Universidade Cândido Mendes e autor de dezenas de livros sobre criacionismo, mídia e História (tendo um de seus livros sido traduzido para mais de dez idiomas)

Os 500 anos da primeira globonavegação

circunavegação.jpg

No dia 6 de setembro de 1522, dezoito marinheiros magros, exaustos e cabeludos, da expedição espanhola liderada inicialmente pelo português Fernão de Magalhães, chegaram com a nau Victoria quase destruída ao porto espanhol de Sanlúcar de Barrameda. Era o que havia sobrado das cinco embarcações e dos 243 navegadores que haviam deixado o mesmo porto três anos antes, com o objetivo de estabelecer uma rota comercial até as ilhas Molucas (hoje Filipinas), mas que acabaram por circunavegar o globo terrestre. Magalhães não completou o périplo mundial, pois acabou morto em 27 de abril de 1521, durante uma batalha.

No ano passado, visitei Portugal e lá conheci alguns pontos turísticos históricos, como o local de onde as embarcações portuguesas saíram para singrar os mares e a igreja onde estão os restos mortais de outro navegador famoso: Vasco da Gama. Esses exploradores corajosos merecem realmente todo o respeito, afinal, graças a eles a visão da humanidade a respeito do mundo foi grandemente ampliada. E foi graças a eles, também, que cálculos feitos pelos antigos matemáticos gregos puderam ser comprovados na prática, mostrando sem sombra de dúvida que a Terra de fato é um globo.

amyrEm matéria publicada na Folha de S. Paulo, o famoso navegador brasileiro Amyr Klink disse: “Naquela época a Terra era redonda. E eles comprovaram isso. Eu lamento desapontar os crentes dessa teoria [da Terra plana], mas eu fui lá e vi. Adoraria sentar na beira da Terra, balançar as perninhas e dar tchau para o Universo. Mas não dá, a Terra é redonda.” Klink acumula os feitos de ter em 1984 atravessado em cem dias o Atlântico em um barco a remo, circunavegado a Antártida com um veleiro em 1998, feito que repetiu com tripulação em 2003, entre outras aventuras. Tudo registrado em fotos e textos em seus livros.

Infelizmente, os chamados terraplanistas desrespeitam o navegador brasileiro e dizem que tudo o que ele escreveu não passa de mentira, assim como dizem que o astronauta e agora ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil Marcos Pontes também mente quando afirma que foi ao espaço e viu a curvatura da Terra. Sem levantar os glúteos da cadeira, desprezam o testemunho de pessoas idôneas que navegaram e voaram muito além do que sequer poderiam imaginar ou estariam dispostos a fazer.

Em 2017, conversei pelo WhatsApp com a esposa de Klink, Marina, e ela me disse achar um absurdo a atitude desses negacionistas do óbvio. “A Terra será plana enquanto ele [ela se referia a um terraplanista] continuar abrindo o mapa-múndi na mesa da cozinha.” Sim, de fato, aqueles que não apenas conhecem o mapa planificado, mas viajam pelo mundo real (como navegadores, pilotos de avião e astronautas), sabem o que há muito tempo já é conhecido, mas que estranhamente vem sendo negado no século 21: que a Terra é um globo, não uma pizza com uma borda de gelo em volta do disco.

carlos magnoPara citar apenas mais três exemplos históricos, basta saber que A Divina Comédia, livro escrito em 1320, apresenta a Terra globo (confira); o mais antigo globo terrestre data de 1492 (confira); e ver as pinturas do primeiro imperador do Sacro Império Romano Carlos Magno, que lá pelos anos 800 segurava um globo terrestre com uma cruz em cima, indicando poder e posse, e concluiremos que a ideia da Terra plana foi disseminada posteriormente no Ocidente com objetivos espúrios (assista a este vídeo para saber que objetivos foram esses).

No último domingo, o programa dominical de TV “Fantástico” exibiu uma reportagem alusiva aos 500 anos da primeira viagem de circunavegação, e tratou também da teoria conspiratória da Terra plana (veja aqui a matéria original do “Fantástico” e aqui um pequeno texto que escrevi sobre essa matéria, com vários materiais de referência sobre o assunto). Graças a Deus, desta vez os repórteres não relacionaram essa ideia mirabolante com o criacionismo nem com a Bíblia. Sim, porque, infelizmente, os chamados terraplanistas (que, por sinal, estão organizando um encontro no Brasil para o mês que vem) frequentemente se identificam como defensores das Escrituras Sagradas, do criacionismo e até do design inteligente, como um rapaz que tem um canal no YouTube aparentemente criado para defender a TDI, mas que ultimamente mais se ocupa de tentar mostrar que o homem não pisou na Lua e que a Terra seria um disco plano! O que esse pessoal mais consegue, na verdade, é atrair o escárnio e denegrir o cristianismo/criacionismo diante do público em geral. Por isso a Sociedade Criacionista Brasileira teve que emitir em 2017 uma nota de esclarecimento em que deixa claro não ser de forma alguma terraplanista.

Depois dessa reportagem no “Fantástico”, pipocaram no YouTube vídeos de terraplanistas indignados, o que já era previsível. Comentando um desses vídeos, meu amigo doutor em Física e especialista em satélites, que colabora em projeto da Nasa e agora trabalha para o Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), Josué Cardoso, disse que frequentemente os terraplanistas “se apegam a detalhes irrelevantes (como a definição de ‘redondo’, por exemplo), desviando o foco das pessoas para coisas que nada significam em relação ao assunto. Nada de provas e argumentos técnicos. É muito triste ver assuntos importantes e verdadeiros sendo ‘queimados’ por essa gente”.

Josué analisa que, no início de seu vídeo, certa youtuber reclama de analfabetismo funcional na reportagem do “Fantástico”, sendo que ela mesma demonstra isso na “resposta” que não é resposta. “Outra coisa triste é quando ela apela para o argumento de autoridade: fulano é geofísico, o rapaz do outro canal é físico, ela é formada nisso e naquilo. Eles praticam os erros grosseiros que acusam os outros de cometer. Além disso, atacar Galileu e Newton é atacar os pais criacionistas da ciência. Assim eles ‘queimam’ duas vezes não somente o legado de cientistas cristãos, mas também da verdadeira mensagem que o bom cristianismo, que está em harmonia com a boa ciência, pode oferecer ao mundo. A mensagem de fé racional e esperança proferida por Cristo se torna associada ao obscurantismo e misticismo. Assim eles nos ‘queimam’ duas vezes! Que serviço para o inimigo de Deus estão fazendo!”

Na avaliação do matemático, esses negacionistas do globo “estão com aquela atitude de suspeitar/duvidar de tudo que os circunda. Quando uma pessoa perde o fio da meada, perde muitas vezes a capacidade de separar as coisas, pois a mente está fervendo. Fica fanática e vacina a si própria contra qualquer argumento contrário. Fecha-se para a possibilidade de estar errada em um assunto, só por ter descoberto verdades em outro. A mente fica polarizada e cega, tornando-se ‘do contra’ em tudo, até contra a verdade. Quando verdades são proferidas pela boca de ‘ímpios’, isso faz com que essas pessoas as rejeitem. Satanás joga com psicologia inversa, e sempre há muita gente que morde a isca”.

Exemplo disso foi o comentário de uma pessoa em minha página no Facebook: “Se veio da Globo é tudo mentira.” Aí eu perguntei: “Se a Globo disser que Deus existe Ele não existe?” Até o diabo fala verdades de vez em quando. Infelizmente, esta é a lógica de muita gente hoje em dia: se o diabo me falou para beber água, eu vou beber veneno; se o diabo falou para eu ser fiel à minha esposa, eu vou traí-la; se o diabo falou, só pode ser errado. No contexto social e político que estamos vivendo no Brasil, com polarização em tudo, a mente dos terraplanistas foi preparada e condicionada para receber esse engano.

Se eles guardassem o engano para si mesmos, seria menos pior. O grande problema é que se identificam como defensores da Bíblia e do criacionismo. Como exemplo disso, vou comentar um vídeo postado no canal Spotniks, em que três terraplanistas visitam o planetário do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e são recebidos lá pelo físico que dirige o planetário. As falas que se seguem são um festival de ignorância científica (assista ao vídeo aqui). Além de, como sempre, negarem a gravidade, desprezarem os conhecimentos em espectrometria que permitem analisar a composição de estrelas, ignorarem ferramentas matemáticas, eles disseram bobagens como estas: “O suposto lançamento de foguetes” (impossível para eles, pois esses artefatos não seriam capazes de cruzar o tal domo sólido), “A datação por carbono 14, todas essas coisas, já caíram por terra”; apontando o dedo para o físico, o rapaz com uma camiseta com a estampa de uma Terra pizza disparou: “Você acredita piamente que o homem evoluiu do macaco? Se o homem vem evoluindo, evoluindo do macaco, por que que hoje em dia ainda existe macaco?” “Você acha que é muito mais fácil explodir alguma coisa e gerar vida?” E um dos terraplanistas conclui o vídeo afirmando: “Nós facilmente chegamos à conclusão de que a Terra é plana, estacionária e não gira.”

Não vou nem dizer que senti vergonha alheia, porque esse pessoal definitivamente não representa o criacionismo, não sabe utilizar a verdadeira ciência e usa a Bíblia de uma forma totalmente distorcida. Quero é concluir repetindo o desafio que apresentei em outro vídeo: meu amigo astrofísico Eduardo Lütz escreveu um texto de mais de cem páginas sobre terraplanismo. Vou deixar de novo aqui o link e esperar que algum terraplanista se disponha a ler o conteúdo e escrever ou gravar uma refutação. Por enquanto, nada…

Enquanto aguarda a reação dos “planilsons” ao desafio do Lütz, sugiro que assista aos dois vídeos abaixo.

Michelson Borges

Fantástico exibe reportagem sobre a Terra plana

fantasticoO programa dominical de TV “Fantástico” exibiu ontem uma reportagem alusiva aos 500 anos da primeira viagem de circunavegação de Fernão de Magalhães, e tratou também da teoria conspiratória da Terra plana (veja aqui a matéria). Graças a Deus, desta vez os repórteres não relacionaram essa ideia mirabolante com o criacionismo nem com a Bíblia. Sim, porque, infelizmente, os chamados terraplanistas (que, por sinal, estão organizando um encontro no Brasil para o mês que vem) frequentemente se identificam como defensores das Escrituras Sagradas, do criacionismo e até do design inteligente (DI), como um rapaz que tem um canal no YouTube aparentemente criado para defender a TDI, mas que ultimamente mais se ocupa de tentar mostrar que o homem não pisou na Lua e que a Terra seria um disco tipo pizza! O que esse pessoal mais consegue, na verdade, é atrair o escárnio e denegrir o cristianismo/criacionismo diante do público em geral. Por isso o diabo gosta tanto dessa ideia e leva as pessoas a perder tanto tempo com ela. E por isso, a Sociedade Criacionista Brasileira teve que emitir em 2017 uma nota de esclarecimento em que deixa claro não ser de forma alguma terraplanista (leia a nota).

Vou deixar aqui embaixo alguns vídeos para que você possa se inteirar desse assunto e dois links para textos que refutam o terraplanismo (veja aqui e aqui). E MAIS IMPORTANTE: deixo aqui o link para um extenso documento escrito por meu amigo astrofísico Eduardo Lütz, até agora não refutado por nenhum terraplanista. É bem evidente que esse pessoal não gosta de matemática nem da verdadeira ciência, essa, sim, em harmonia com a Bíblia Sagrada e o verdadeiro criacionismo. [MB]