Há inúmeras formas de homenagear alguém. A depender dos motivos, pessoas oferecem presentes, flores, escrevem um texto, uma carta ou mesmo um livro. Outros preferem pintar um quadro, compor uma música ou preparar uma refeição especial. E há ainda aqueles que constroem um monumento em homenagem a alguém. E entre os mais famosos estão os que foram construídos para homenagear pessoas que perderam a vida combatendo numa guerra. Esses monumentos presentes nos mais diversos países são conhecidos como Monumento ao Soldado Desconhecido.
Neles não há nomes nem sobrenomes. Não há histórias elevando o heroísmo de quem quer que seja. A única referência, seja para alguns ou milhões deles, é: “Soldado Desconhecido”. Todos os que visitam esses locais sabem, no entanto, que ali são homenageados combatentes de guerra que deixaram um legado de serviço e dedicação ao país, à sociedade, à comunidade e à família.
Ao comemorarmos o Dia das Mães neste segundo domingo de maio de 2024, em meio às mais diversas calamidades e tragédias em nosso País e ao redor do mundo, lembramos que as mães são chamadas à mesma forma de legado: serem combatentes de guerra em seus próprios lares. Mais do que nunca, carecemos de “mães que compreendam o elevado caráter e dignidade de sua tarefa. Mães que tomem toda a armadura de Deus e resistam à tentação de conformar-se aos padrões do mundo entendendo que sua obra é para o tempo e a eternidade”. Precisamos de Mães que não busquem benefícios nem reconhecimento próprio, mas, ao contrário, que não se importem inclusive de serem totalmente desconhecidas.
Mães combatentes em tempos bíblicos
As mães que assim são e agem não estão sozinhas. Há inúmeras delas no rol de combatentes no relato bíblico. Nesse contexto, algumas delas se sobressaem; por exemplo, a mulher de Noé.
Em Gênesis 6:9, lê-se que Noé era homem justo, íntegro entre o povo da sua época, que andava com Deus e gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé. O texto continua no verso 17 e diz que Deus traria águas sobre a terra, o dilúvio, para destruir debaixo do céu toda criatura que tem fôlego de vida, mas com Noé Deus estabeleceria Sua aliança. Diante desse cenário Deus descreve detalhadamente o que Noé deve fazer e, finalmente, após tudo pronto, ordena que Noé entre na arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos. Nos detalhes da narrativa (Gênesis 7: 6, 7), é possível ainda saber que Noé tinha seiscentos anos quando as águas do dilúvio vieram sobre a terra; que viveu mais trezentos e cinquenta anos após o dilúvio e, no total, seus anos foram de novecentos e cinquenta anos, e morreu (Gênesis 9:28, 29).
E quanto à mulher de Noé? A única mãe que sobreviveu ao dilúvio? Só sabemos que era a mulher de Noé, que teve três filhos e três noras e que diante da ordem de Deus dada à Noé, de construir uma arca, obedeceu e manteve-se firme até seu cumprimento. Essa mãe certamente poderia questionar Noé e, consequentemente, a Deus sobre esse chamado. Poderia dar ouvidos àqueles que consideravam seu esposo louco. Poderia convencer Noé a não correr o risco de um suicídio em família, de não passar um vexame diante da sociedade de então, e inclusive convencer Noé a desistir de tudo. No entanto, em nenhum lugar da Bíblia há uma referência sequer de que essa mulher e mãe não estivesse cumprindo a mesma missão de seu cônjuge. Ela não se deixou levar por sentimentos humanos, não deu espaço à dúvida e aos falatórios. A mãe de Sem, Cam e Jafé é exemplo de um “soldado desconhecido”, um combatente de guerra com uma missão, um propósito e um legado sem precedente na história da humanidade.
Outras mães merecem ser homenageadas e incluídas no rol dos soldados combatentes nos relatos bíblicos. Entre elas podemos citar, por exemplo, a mãe de Moisés cuja história é relatada em Êxodo 2. Joquebede destaca-se por sua destemível e grandiosa fé no Deus de Israel, em Quem escolheu confiar apesar de todas as circunstâncias. Era uma mãe comprometida com o conhecimento bíblico e propósitos de Deus na vida de um filho. Joquebede entendia ainda que os primeiros anos da vida de uma criança são de grande importância.
No Novo Testamento há diversas outras mães que merecem ser inseridas no rol de “soldados desconhecidos”, ou pouco conhecidos, como a própria Maria, mãe de Jesus, Isabel, sua prima, a sogra de Pedro, Eunice e Loide, mãe e avó de Timóteo (Timóteo 1), as quais Paulo reconhece que exerceram importante influência sobre a formação cristã do filho e neto Timóteo, por terem uma fé sem fingimento. Podemos inserir essas mães em um contexto de homenagem. No entanto, em seu tempo e procedimento, essas, entre outras mães da Bíblia, entenderam que seu papel estava muito acima de qualquer reconhecimento.
Mães combatentes atualmente
E hoje? Que mães poderiam ser reconhecidas por seus feitos e incluídas em um rol de homenagem? Certamente todas aquelas que planejando ou não tiveram filhos e filhas. Entretanto, sempre houve e haverá mães que andam uma segunda, terceira ou quarta milha por seus filhos. Essas mães são incompreendidas em seus questionamentos, angústias e lutas. Deus, no entanto, em Seu infinito conhecimento e bondade, ouve cada oração que elas elevam ao Céu. São soldados combatentes e muitas vezes totalmente desconhecidas. Neste dia, essas mães merecem nossa homenagem, e entre elas podem estar as seguintes, entre outras:
- Mães de crianças com alguma deficiência. Apenas Deus é capaz de saber e reconhecer tudo o que essas mães fazem por seus filhos. Determinação, amor incondicional e desprendimento são algumas palavras que ousamos usar para descrevê-las. Parabéns por seu dia, queridas mães.
- Mães que perderam seus filhos. Seja há muito tempo, recentemente ou quando ainda estavam no seu ventre, essas mães sofrem em silêncio ao suplicar a Deus que lhes dê forças para seguir em frente diante da ausência de abraços calorosos, diálogos, de saudade de ser chamada simplesmente de “mãe”. Que Deus renove sempre a esperança de um dia reencontrar seus queridos filhos.
- Mães que têm seus filhos envolvidos com drogas. Essas mães insistem e não desistem de fazer tudo o que está ao seu alcance para ajudar a recuperar o bem-estar de seu filho(a). Lutam com todas as suas forças e apegam-se a Deus como um soldado em meio a uma guerra fazendo tudo o que for preciso até que eles estejam bem. Parabéns por seu dia, prezada mãe!
- Mães cujos filhos abandonaram a fé. Essas mães são verdadeiros combatentes de uma guerra espiritual. Elas entendem que estão em meio a um grande conflito entre o bem e o mal. Neste sentido levam a sério o poder da intercessão ao compreender que é “impossível calcular o poder da influência de uma mãe que ora”.
- Mães de filhos adultos. Essas mães continuam se preocupando com seus filhos e devem exercer um legado de intercessão por eles e sua famílias. Seu papel de mãe, avó e sogra se amplia ainda mais diante dos desafios que todos enfrentam
- Às demais mães que, como eu, vivem em pleno século 21. Precisamos entender que provavelmente em nenhum momento da história deste mundo a família foi tão provada e desafiada. Sendo assim, não há e não deve haver prioridade maior e mais importante que cumprir com intencionalidade a vontade de Deus em nosso papel de mãe.
Como mães, devemos ser gratas a Deus que nos deixou um Manual, a Bíblia Sagrada. Nosso papel é explorá-lo, lê-lo, sublinhá-lo, do contrário falharemos em toda e qualquer outra iniciativa. Que nossa maior homenagem seja sempre buscarmos, como família, fazer a vontade de Deus todos os dias. Esta é minha oração a todas as mães.
Feliz Dia das Mães!
(Janete Tonete Suárez é psicóloga clínica, doutora em psicologia e professora da UNB)
* Crédito da ilustração: Yasmin @ya.tonetto e @tottostudio