Mães: soldados desconhecidos

Há inúmeras formas de homenagear alguém. A depender dos motivos, pessoas oferecem presentes, flores, escrevem um texto, uma carta ou mesmo um livro. Outros preferem pintar um quadro, compor uma música ou preparar uma refeição especial. E há ainda aqueles que constroem um monumento em homenagem a alguém. E entre os mais famosos estão os que foram construídos para homenagear pessoas que perderam a vida combatendo numa guerra. Esses monumentos presentes nos mais diversos países são conhecidos como Monumento ao Soldado Desconhecido.

Neles não há nomes nem sobrenomes. Não há histórias elevando o heroísmo de quem quer que seja. A única referência, seja para alguns ou milhões deles, é: “Soldado Desconhecido”. Todos os que visitam esses locais sabem, no entanto, que ali são homenageados combatentes de guerra que deixaram um legado de serviço e dedicação ao país, à sociedade, à comunidade e à família.

Ao comemorarmos o Dia das Mães neste segundo domingo de maio de 2024, em meio às mais diversas calamidades e tragédias em nosso País e ao redor do mundo, lembramos que as mães são chamadas à mesma forma de legado: serem combatentes de guerra em seus próprios lares. Mais do que nunca, carecemos de “mães que compreendam o elevado caráter e dignidade de sua tarefa. Mães que tomem toda a armadura de Deus e resistam à tentação de conformar-se aos padrões do mundo entendendo que sua obra é para o tempo e a eternidade”. Precisamos de Mães que não busquem benefícios nem reconhecimento próprio, mas, ao contrário, que não se importem inclusive de serem totalmente desconhecidas.

Mães combatentes em tempos bíblicos

As mães que assim são e agem não estão sozinhas. Há inúmeras delas no rol de combatentes no relato bíblico. Nesse contexto, algumas delas se sobressaem; por exemplo, a mulher de Noé.

Em Gênesis 6:9, lê-se que Noé era homem justo, íntegro entre o povo da sua época, que andava com Deus e gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé. O texto continua no verso 17 e diz que Deus traria águas sobre a terra, o dilúvio, para destruir debaixo do céu toda criatura que tem fôlego de vida, mas com Noé Deus estabeleceria Sua aliança. Diante desse cenário Deus descreve detalhadamente o que Noé deve fazer e, finalmente, após tudo pronto, ordena que Noé entre na arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos. Nos detalhes da narrativa (Gênesis 7: 6, 7), é possível ainda saber que Noé tinha seiscentos anos quando as águas do dilúvio vieram sobre a terra; que viveu mais trezentos e cinquenta anos após o dilúvio e, no total, seus anos foram de novecentos e cinquenta anos, e morreu (Gênesis 9:28, 29).  

E quanto à mulher de Noé? A única mãe que sobreviveu ao dilúvio? Só sabemos que era a mulher de Noé, que teve três filhos e três noras e que diante da ordem de Deus dada à Noé, de construir uma arca, obedeceu e manteve-se firme até seu cumprimento. Essa mãe certamente poderia questionar Noé e, consequentemente, a Deus sobre esse chamado. Poderia dar ouvidos àqueles que consideravam seu esposo louco. Poderia convencer Noé a não correr o risco de um suicídio em família, de não passar um vexame diante da sociedade de então, e inclusive convencer Noé a desistir de tudo. No entanto, em nenhum lugar da Bíblia há uma referência sequer de que essa mulher e mãe não estivesse cumprindo a mesma missão de seu cônjuge. Ela não se deixou levar por sentimentos humanos, não deu espaço à dúvida e aos falatórios. A mãe de Sem, Cam e Jafé é exemplo de um “soldado desconhecido”, um combatente de guerra com uma missão, um propósito e um legado sem precedente na história da humanidade.

Outras mães merecem ser homenageadas e incluídas no rol dos soldados combatentes nos relatos bíblicos. Entre elas podemos citar, por exemplo, a mãe de Moisés cuja história é relatada em Êxodo 2. Joquebede destaca-se por sua destemível e grandiosa fé no Deus de Israel, em Quem escolheu confiar apesar de todas as circunstâncias. Era uma mãe comprometida com o conhecimento bíblico e propósitos de Deus na vida de um filho. Joquebede entendia ainda que os primeiros anos da vida de uma criança são de grande importância.

No Novo Testamento há diversas outras mães que merecem ser inseridas no rol de “soldados desconhecidos”, ou pouco conhecidos, como a própria Maria, mãe de Jesus, Isabel, sua prima, a sogra de Pedro, Eunice e Loide, mãe e avó de Timóteo (Timóteo 1), as quais Paulo reconhece que exerceram importante influência sobre a formação cristã do filho e neto Timóteo, por terem uma fé sem fingimento. Podemos inserir essas mães em um contexto de homenagem. No entanto, em seu tempo e procedimento, essas, entre outras mães da Bíblia, entenderam que seu papel estava muito acima de qualquer reconhecimento.

Mães combatentes atualmente

E hoje? Que mães poderiam ser reconhecidas por seus feitos e incluídas em um rol de homenagem? Certamente todas aquelas que planejando ou não tiveram filhos e filhas. Entretanto, sempre houve e haverá mães que andam uma segunda, terceira ou quarta milha por seus filhos. Essas mães são incompreendidas em seus questionamentos, angústias e lutas. Deus, no entanto, em Seu infinito conhecimento e bondade, ouve cada oração que elas elevam ao Céu. São soldados combatentes e muitas vezes totalmente desconhecidas. Neste dia, essas mães merecem nossa homenagem, e entre elas podem estar as seguintes, entre outras:

  • Mães de crianças com alguma deficiência. Apenas Deus é capaz de saber e reconhecer tudo o que essas mães fazem por seus filhos. Determinação, amor incondicional e desprendimento são algumas palavras que ousamos usar para descrevê-las. Parabéns por seu dia, queridas mães.
  • Mães que perderam seus filhos. Seja há muito tempo, recentemente ou quando ainda estavam no seu ventre, essas mães sofrem em silêncio ao suplicar a Deus que lhes dê forças para seguir em frente diante da ausência de abraços calorosos, diálogos, de saudade de ser chamada simplesmente de “mãe”. Que Deus renove sempre a esperança de um dia reencontrar seus queridos filhos.
  • Mães que têm seus filhos envolvidos com drogas. Essas mães insistem e não desistem de fazer tudo o que está ao seu alcance para ajudar a recuperar o bem-estar de seu filho(a). Lutam com todas as suas forças e apegam-se a Deus como um soldado em meio a uma guerra fazendo tudo o que for preciso até que eles estejam bem. Parabéns por seu dia, prezada mãe!
  • Mães cujos filhos abandonaram a fé. Essas mães são verdadeiros combatentes de uma guerra espiritual. Elas entendem que estão em meio a um grande conflito entre o bem e o mal. Neste sentido levam a sério o poder da intercessão ao compreender que é “impossível calcular o poder da influência de uma mãe que ora”.
  • Mães de filhos adultos. Essas mães continuam se preocupando com seus filhos e devem exercer um legado de intercessão por eles e sua famílias. Seu papel de mãe, avó e sogra se amplia ainda mais diante dos desafios que todos enfrentam
  • Às demais mães que, como eu, vivem em pleno século 21. Precisamos entender que provavelmente em nenhum momento da história deste mundo a família foi tão provada e desafiada. Sendo assim, não há e não deve haver prioridade maior e mais importante que cumprir com intencionalidade a vontade de Deus em nosso papel de mãe.

Como mães, devemos ser gratas a Deus que nos deixou um Manual, a Bíblia Sagrada. Nosso papel é explorá-lo, lê-lo, sublinhá-lo, do contrário falharemos em toda e qualquer outra iniciativa. Que nossa maior homenagem seja sempre buscarmos, como família, fazer a vontade de Deus todos os dias. Esta é minha oração a todas as mães.

Feliz Dia das Mães!

(Janete Tonete Suárez é psicóloga clínica, doutora em psicologia e professora da UNB)

* Crédito da ilustração: Yasmin @ya.tonetto e @tottostudio

COMENTÁRIO DA LIÇÃO: As duas testemunhas e a besta do abismo

O Descendente pisou na cabeça da serpente

ADRA: além da tragédia

Carta de agradecimento às autoridades da Guiana e do Brasil

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No dia 23 de abril de 2023, um domingo, por volta das 8h30, saí da cidade de Chuí, no Rio Grande do Sul – cidade essa onde se localiza o Marco Zero do extremo sul do Brasil –, com um grande sonho: dar a volta no Brasil, passando por todos os estados, usando o ciclismo, a corrida e a natação, ou seja, como um triatleta.

Logo na largada, dia 23, o primeiro esporte que usei foi a natação, cruzando a nado o Arroyo Chuí, rio que faz a fronteira entre Brasil e Uruguai. Depois, ainda nesse dia, ao sair da água, peguei a bicicleta e fui até o centro da cidade de Chuí e, da praça que fica entre os dois países, dei sequência, agora pedalando, ao meu grande sonho de fazer a primeira volta do Brasil como triatleta.

Sendo assim, comecei a cruzar os estados do Brasil, a partir do Rio Grande do Sul. Então, pedalei todo o estado sulino e segui para Santa Catarina. Sempre pedalando minha bike, cujo nome é “Pantera Negra”, fui subindo o Brasil e percorri, na sequência, os estados de Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Río Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá, Amazonas e, finalmente, logrei uma grande vitória nesse projeto, quando alcancei Boa Vista, capital do estado de Roraima, após pedalar aproximadamente 12.000 km. Chegar a essa décima nona capital, sem ser atropelado, assaltado ou morto, foi um sonho, uma prova clara de que Deus e Seus anjos me acompanharam nessa etapa. Porém, meu desafio não terminava aí. Era necessário atingir o extremo norte, e ele se localiza na tríplice fronteira do Brasil com Venezuela e Guiana.

Por saber que seria a parte mais difícil da minha jornada e também por ter contraído uma forte virose, durante a travessia da comunidade indígena Waimiri Atroari, que fica no trecho entre Manaus e Boa Vista, decidi fazer uma parada no projeto e voltar a São Paulo, onde moro, para tratamento médico, descansar e estudar como seria a melhor forma de chegar ao Monte Caburai.

Após superada a virose, estar refeito fisicamente e ter passado o resto de 2023 com a família, peguei um avião no aeroporto de Viracopos, na cidade de Campinas, e retornei a Boa Vista, onde cheguei no dia 6 de março de 2024. Chegando nessa capital para dar continuidade ao projeto “Volta do Brasil”, correndo, nadando e pedalando, pedalei de Boa Vista até a cidade de Uiramutã, a qual fica na direção do Monte Caburai, onde está o Extremo Norte do nosso país.

Após a compra de equipamentos para sobrevivência na selva e me munir de comida para 10 dias, em 27 de março, quarta-feira, por volta das 7h45, comecei a jornada caminhando e trotando, porque não era possível correr, uma vez que estava com uma mochila de 60 litros nas costas, cheia de comida e artigos de sobrevivência. Para chegar ao Monte Caburai, tracei o seguinte roteiro:

27 de março: Uiramutã até Orinduik

28 de março: Orinduik até Ipchau

29 de março: Ipchau até Wiapri

31 de março: Wiapri até Selva 1

1º de abril: Selva 1 até Selva 2

2 de abril: Selva 2 até Selva 3

3 de abril: Selva 3 até Monte Caburai

Portanto, minha previsão seria, caso tudo desse certo, alcançar o extremo norte do Brasil, no dia 3 de abril, e depois fazer o percurso inverso e retornar a Uiramutã, até o dia 8 de abril.

Infelizmente, as coisas não saíram como previ. Após passar por Orinduik, Ipchau, Wiapri e Kabarupay, a mata ficou muito fechada e, sem trilhas, ficou difícil progredir. Mesmo assim, avancei na certeza de que chegaria ao Monte Caburai.

O que de fato aconteceu, após atravessar montanhas, charcos, imensas florestas e atingir uma altitude de 1.539 metros, foi que observei no Google Maps que me encontrava a 58 metros do local onde fica o Marco Zero, mas, nesse momento, acabou toda a carga do celular, dos dois powerbank, e não havia sol para carregar o celular pela placa solar.

Então, neste ponto, tomei a decisão de retornar. Como levei 13 dias para percorrer 150 km até o Monte Caburai, estando agora sem comida, muito cansado, sem bússola manual e nenhum acessório de orientação, resolvi, por causa dessas condições desfavoráveis, não retornar os 150 km até Uiramutã, mas, sim, seguir na direção 330° noroeste, rumo tal que, após 21 dias, me fez chegar a uma oca da comunidade Amokokopai, onde encontrei os índios Vicente, Branson e o brasileiro Paulo Neto, os quais me levaram até a tribo deles e, depois, até a tribo de Fhillipai, onde, com o apoio do tuxaua Marc Josef, fiz contato com minha esposa Francis e meu filho Gregori.

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O restante da história todos conhecem: graças ao envolvimento do excelentíssimo senhor Robeson Benn, ministro de Estado da Guiana Inglesa, tive transporte em aeronave de Fhillipai até Georgetown e completa assistência médica (translado em ambulância desde o aeroporto até o Georgetown Public Hospital, e tratamento médico por quatro dias com internação e remédios). Essas providências foram coordenadas e acompanhadas por nossas autoridades da Embaixada do Brasil na Guiana, na pessoa do excelentíssimo senhor ministro conselheiro Paulo Chuc, pelo adido militar Coronel Cruz e pelo assessor da Embaixada, senhor Dionísio.

Contei, ainda, com a ajuda precisa do geólogo Leandro Pires, que foi meu tradutor e porta-voz durante o contato com minha esposa, a ambulância, os médicos no hospital e demais momentos que culminaram nesse episódio único de resgate de minha vida na selva de terras guianenses.

Portanto, meus amigos e digníssimas autoridades diplomáticas que me prestaram tão relevantes serviços, posso ter deixado passar alguns nomes, no entanto, Deus sabe tudo e peço a Ele que abençoe suas vidas particularmente, e os faça sempre dignos da função que exercem em nossa querida Guiana Inglesa e em nosso amado Brasil.

Encerro com palavras do excelentíssimo senhor ministro conselheiro Paulo Chuc: “Pessoas que realizam grandes projetos devem viver para realizá-los.”

Sendo assim, em breve voltarei a Boa Vista para percorrer os seis estados que me restam para ser o primeiro brasileiro a dar a volta do Brasil usando o triatlo: pedalando, nadando e correndo.

“Para Deus NADA é impossível” (Lucas 1:37).

George Silva de Souza

Ayaan Hirsi Ali enfrenta Richard Dawkins em debate sobre o neoateísmo

Ayaan Hirsi Ali disse que lamenta seu papel no movimento do Novo Ateísmo, como parte de um debate no sábado, com Richard Dawkins.

Na conferência inaugural dos Diálogos Dissidentes em Nova York, Ali disse que agora sente que errou ao confundir o Cristianismo com o Islã quando era ateia. “Lamento ter feito isso”, disse ela ao moderador Freddie Sayers. “Sou culpada de ter dito que todas as crenças e todas as percepções de Deus são iguais e igualmente prejudiciais, então… comecei a me arrepender do dano que causei.”

Ali prosseguiu argumentando que os neoateístas, o movimento intelectual altamente influente da década de 2000, que era fortemente antirreligioso, esperavam que as massas adotassem a razão à medida que a religião declinava. Mas, em vez disso, adotaram crenças piores e menos razoáveis ​​em lugar do Cristianismo. [Ali tem criticado o avanço da cultura woke, do comunismo e do islamismo.]

“O que você valoriza no Cristianismo é algo que é absolutamente necessário transmitir à próxima geração”, disse ela a Dawkins. “E falhamos com a próxima geração ao tirar-lhes essa estrutura moral e dizer-lhes que é um disparate e uma falsidade. Também não os protegemos das forças externas que atingem seus corações, mentes e almas.”

Ali anunciou a sua conversão do ateísmo ao cristianismo no ano passado no UnHerd, enfatizando a utilidade da religião como meio de defesa da civilização ocidental. Dawkins respondeu com uma carta aberta argumentando que Ali não era, de fato, cristã. “Sério, Ayaan? Você, cristã? Você não é mais cristã do que eu.”

“O Cristianismo faz afirmações factuais”, argumentou ele na carta aberta. “Eles acreditam em uma figura paterna divina que projetou o Universo, ouve nossas orações, está a par de todos os nossos pensamentos. Você certamente não acredita nisso? Você acredita que Jesus ressuscitou do túmulo três dias depois de ter sido colocado lá? Claro que não.”

No sábado, Ali respondeu a esses argumentos com uma visão mais pessoal da sua experiência de conversão. Sua crença em Cristo, disse ela, é separada da crença que partilha com Dawkins – de que o Cristianismo é uma força útil e pró-civilização.

“Em nível pessoal, sim, escolho acreditar em Deus. E acho que aí, poderíamos dizer, vamos concordar em discordar”, disse ela. “Acho que é algo subjetivo, é uma escolha e há coisas que você vê e percebe que uma pessoa diferente não consegue perceber.”

Ambos concordaram, no entanto, sobre a ameaça representada pelo Islã, que Dawkins chamou de “religião desagradável”. Desde que se identificou como um cristão cultural no início deste ano, o biólogo evolucionista foi mais longe durante a palestra de sábado, dizendo que se considera parte da “Equipe do Cristianismo”.

Durante o debate, Dawkins mudou de ideias sobre a fé de Ali e a afirmação central da sua carta aberta em resposta à sua conversão. “Vim aqui preparado para persuadi-la, Ayaan, de que você não é cristã. Acho que você é cristã e acho que o cristianismo é um absurdo.”

Concluindo o debate, o biólogo colocou uma questão a Ali sobre qual era a solução “epidemiológica” correta para o Islã. “Temos um vírus mental cruel”, disse ele. “A questão é: combatemo-lo através da vacinação com uma forma mais branda do vírus [Cristianismo]? Ou dizemos nada de vírus e optamos pela racionalidade esclarecida?”

(UnHerd)

Ali explicou: “Você está vindo de um lugar onde ‘não há nada’. E o que aconteceu comigo é que acho que aceitei que existe algo. E quando você aceita que existe algo, existe uma entidade poderosa – para mim, (esse é) o Deus que me transformou.”

Ali acrescentou: “Como você, eu zombei da fé, em geral, e provavelmente do cristianismo em particular, mas não faço mais isso. […] Fiquei de joelhos para dizer que as pessoas que sempre tiveram fé têm algo que nós que perdemos a fé não temos.”

Ali disse que conheceu uma mulher que lhe disse: “Você tentou de tudo e perdeu a esperança, perdeu a fé. Experimente… ore. Ali acrescentou que há muita sabedoria no que lhe foi dito.

Hannah Long, editora da HarperCollins, escreveu no X : “Ontem à noite ela revelou o que aconteceu: um despertar espiritual após depressão suicida. Dawkins investigou, destacando ‘bobagens que o vigário diz’ e o Cristianismo sendo ‘obcecado pelo pecado’.”

Ali respondeu: “Acho que o que o vigário está dizendo não parece mais absurdo. Faz muito sentido… Acho que o Cristianismo é realmente obcecado pelo amor.”

A mudança de Ali do ateísmo para uma identidade cristã declarada não tem sido isenta de controvérsia, especialmente entre os seus antigos pares na comunidade neoateísta, que ganhou destaque no início dos anos 2000 pela sua posição crítica em relação à religião.

Seu anúncio no ano passado, também no UnHerd, sublinhou o papel do Cristianismo na preservação da civilização ocidental, um ponto de vista que inicialmente atraiu o ceticismo de Dawkins. Ele desafiou sua fé recém-adquirida, questionando a sinceridade da sua crença na doutrina cristã. “Sério, Ayaan? Você, cristã? Você não é mais cristã do que eu”, respondeu Dawkins numa carta aberta, duvidando da aceitação de Ali de crenças cristãs fundamentais como a ressurreição de Jesus.

No entanto, o diálogo de sábado revelou uma suavização da postura de Dawkins. Confrontado com o testemunho pessoal de Ali sobre sua fé, Dawkins admitiu: “Vim aqui preparado para persuadi-la, Ayaan, de que você não é cristã”, disse ele. “Acho que você é cristã e acho que o cristianismo é um absurdo.”

A conversa também abordou as implicações mais amplas da crença religiosa na sociedade. Tanto Ali quanto Dawkins concordaram sobre os aspectos problemáticos do Islã, que Dawkins descreveu como uma “religião desagradável”. Dawkins, que recentemente disse que se identifica como um cristão cultural apesar das suas críticas ao Cristianismo, discutiu o potencial de usar as crenças cristãs como um “vírus mais suave” para neutralizar as ideologias mais prejudiciais presentes noutros movimentos religiosos.

(The Christian Post)

Pastor vai em busca de família isolada pela enchente no RS

AS PROFECIAS DO APOCALIPSE #03: O Éden restaurado

Ateu mais conhecido do mundo se diz “culturalmente cristão”

É uma mudança significativa na postura de Dawkins, que, no passado, igualou todas as religiões a um “delírio”

A notícia da morte do autor Daniel Dennett, em 19 de abril, teve pouca repercussão. Mas, menos de duas décadas atrás, ele era uma das figuras mais controversas do debate público nos Estados Unidos e no Reino Unido. Em 2006, Dennett lançou o livro que seria traduzido para o português como Quebrando o Encanto – A Religião Como Fenômeno Natural. Ao lado de Richard Dawkins, Sam Harris e Christopher Hitchens, ele ficaria conhecido como dos “quatro cavaleiros do ateísmo”. O grupo ganhou espaço nos meios de comunicação em um mundo que, depois do 11 de setembro, acordava para os efeitos potencialmente nocivos do fanatismo religioso. O argumento do quarteto era radical: quanto antes o mundo se livrasse das religiões (todas elas), melhor.

Por coincidência, dias antes da morte de Dennett, o membro mais conhecido do grupo havia dado uma declaração que indicava uma mudança de postura. Em uma entrevista à rádio britânica LBC no começo de abril, o zoólogo Richard Dawkins afirmou que se sente “culturalmente cristão”. “Acredito que, culturalmente, somos um país cristão, e eu me considero culturalmente cristão. Eu amo hinos e as canções de Natal. Sinto-me em casa no etos cristão”, ele disse.

É uma mudança significativa na postura de Dawkins, que, no passado, igualou todas as religiões a um “delírio”. Mas ele não foi o único a seguir esse caminho. Cada uma a seu modo, outras figuras públicas parecem ter passado a prestar mais atenção às consequências do esvaziamento da religião tradicional no Ocidente. Conforme a influência do Cristianismo deixa de ser dominante, ela cede espaço ao radicalismo progressista ou ao islamismo, que tendem a ser muito menos tolerantes com as liberdades individuais tão caras aos ateus.

No ano passado, a aclamada escritora Ayaan Hirsi Ali anunciou que havia se convertido ao Cristianismo. Assim como Dawkins, ela chegou à conclusão de que nem todas as religiões são iguais. Criada em uma família muçulmana, ela havia perdido a fé décadas antes. “Todo o tipo de liberdade aparentemente secular – de consciência e de imprensa – tem suas raízes no Cristianismo”, ela escreveu, ao explicar a jornada que a levou à fé cristã. Dawkins, por exemplo, arranjou uma briga com movimentos de esquerda ao dizer, como biólogo geneticista, que as diferenças entre os sexos são objetivas e imutáveis. Além disso, sua afirmação sobre o “Cristianismo cultural” foi uma reação à divulgação de versos islâmicos no painel da estação de trem King’s Cross, em Londres, durante o Ramadã.

O geneticista concluiu que, das alternativas disponíveis, o Cristianismo parece ser a que mais respeita o bom senso e os direitos individuais. Em graus diversos, outros ateus fizeram uma trajetória similar. A lista inclui o escritor britânico Tom Holland, que se tornou católico, o autor canadense Jordan Peterson, que caminha entre a crença e a descrença, e o apresentador de TV americano Bill Maher, que continua tão ateu quanto antes, mas passou a criticar os excessos de grupos progressistas.

O autor britânico Justin Brierley passou os últimos anos entrevistando ex-ateus que passaram a crer. Formado em Filosofia na Universidade de Oxford, ele lançou recentemente um livro e uma série de podcasts sobre o tema. Brierley conversou com a Gazeta do Povo. Segundo ele, a trajetória de Dawkins é semelhante à de outros descrentes. “Estou vendo isso com cada vez mais frequência entre ateus, mesmo alguns que eram muito anticristãos (como Dawkins) no passado. Acho que eles estão cada vez mais percebendo que os valores em que acreditam são produto de sua herança judaico-cristã”, afirma ele.

Na opinião de Brierley, as consequências do esvaziamento religioso de países como a Inglaterra se tornaram mais evidentes nos últimos anos, o que fez muitos ateus repensarem as consequências de uma visão radical contra a religião. “Conforme outros sistemas de valores começam a ameaçar essa herança (por exemplo, a ideologia woke ou regimes autoritários de esquerda), eles começaram a perceber que o Cristianismo tem sido bom para nossa cultura”, diz Brierley.

Ele também notou um aumento no número de conversões religiosas (e não apenas culturais) de ateus ao Cristianismo. Ele diz que o motivo mais frequente é o contato com cristãos que o ajudaram a desfazer preconceitos sobre a igreja. “Eles têm contato com cristãos atenciosos e gentis que ajudam a superar seus preconceitos sobre o Cristianismo e a igreja. Isso rompe a barreira e permite que eles comecem a levar o Cristianismo a sério”, diz ele.

Na sequência, diz, os motivos mais comuns para a conversão do ateísmo ao Cristianismo são uma experiência emocional que os levou à fé em Deus, ou argumentos intelectuais como os indícios que apontam para o design do universo. Este último, por exemplo, foi o que levou o célebre filósofo Antony Flew do ateísmo à crença em Deus (embora Flew nunca tenha se tornado um cristão). Autor do influente A Presunção do Ateísmo, de 1976, ele atribuiu ao avanço da cosmologia e da biologia a sua guinada existencial. A notícia veio a público em 2004. Três anos depois, Flew publicou um livro que, em português, ganhou o título de Deus Existe – As Provas Incontestáveis de um Filósofo que Não Acreditava em Nada.

Um artigo científico publicado em 2019 pelo Journal of Religion & Society também investigou o que leva ateus a se converterem ao Cristianismo. O estudo analisou 111 relatos de conversão publicados em fóruns na internet em busca de elementos comuns. A maioria dos ex-ateus (53%) mencionou ter percebido a importância da participação em atividades tipicamente religiosas, como ir à igreja e orar. Metade também citou descobertas intelectuais na ciência ou na filosofia. Além disso, 45% relataram uma experiência sobrenatural (as respostas não eram excludentes, e por isso a soma ultrapassa os 100%).

A Gazeta do Povo falou com um dos autores do estudo. Matthew Facciani – que é doutor em Sociologia e pesquisador no MIT, e diz que esse tipo de guinada geralmente envolve mais de um motivo, e frequentemente tem início com um laço social. “Muitos dos aspectos que encontramos em ateus que se converteram ao Cristianismo eram comuns em outros estudos sobre conversão religiosa. Por exemplo: muitos indivíduos que eram ateus mencionaram um laço social importante que os levou ao Cristianismo. A necessidade de pertencer e encontrar uma comunidade é poderosa e muitas vezes norteia o que acreditamos”, afirma Facciani.

Nova onda religiosa a caminho?

Há poucas dúvidas de que, de forma geral, os países ocidentais passam por um período de queda na religiosidade. Por outro lado, se é verdade que a religião tradicional continua em declínio, o número de ateus não cresceu na mesma proporção. E há até mesmo sinais de que o Cristianismo tem voltado a crescer em lugares improváveis.

Na Finlândia, um país com grande número de ateus, o número de jovens religiosos parece estar aumentando. Uma pesquisa da Igreja Evangélica Luterana da Finlândia mostrou um aumento da religiosidade entre jovens do sexo masculino. Entre 2011 e 2019, o número de jovens de 15 a 19 anos que diz crer em Deus passou de 19% para 43%. A parcela dos que vão à igreja todo mês passou de 5% para 12%.

Justin Brierley diz que a igreja que ele frequenta na Inglaterra também tem crescido. “Várias pesquisas também parecem mostrar altos níveis de abertura à fé entre os jovens. Vejo os sinais de que a ‘maré da fé’ está começando a mudar, à medida que muitos intelectuais seculares exortam seu público a levar o Cristianismo a sério novamente”, diz.

(Gazeta do Povo)

Leia mais sobre Dawkins aqui.

“Esse tipo de ‘cristianismo’ esvazia a religião cristã com muito mais eficiência do que as tentativas diretas de convencer as pessoas de que Deus é uma ilusão. Ele derrota o cristianismo ao substituir o Deus vivo por um deus que é, de fato, uma ilusão. […] O problema com o ‘cristianismo cultural’ de Dawkins, portanto, não é o fato de ele confessá-lo em voz alta; é o fato de muitas pessoas terem a mesma opinião dele, mas não confessarem isso… ainda. O cristianismo não tem a ver com hinos nacionais, capelas em vilarejos e canções de Natal à luz de velas. E certamente não tem a ver com usar alavancas da cultura ou do Estado para coagir outras pessoas a fingirem que são cristãs, quando não são. Se o evangelho não for real, o evangelho não funciona. O paganismo genuíno sempre vencerá o cristianismo fingido.

“O apóstolo Paulo advertiu que, nos últimos dias, os falsos mestres lançariam mão de tudo o que as pessoas desejam — prazer, poder, pertencimento, ego — para introduzir um tipo de religião com ‘aparência de piedade, mas negando o seu poder’ (2 Timóteo 3.5). O diabo é suficientemente inteligente para usar o cristianismo oco e cultural a fim de nos tornar ateus a longo prazo, e também para perceber que a melhor maneira de derrubar uma cruz é substituindo-a por uma cultura, uma coroa ou uma catedral — ou até por uma árvore de Natal” (Russell Moore é o editor-chefe da Christianity Today).

O missionário e ciclista George da Silva foi recebido com abraços do filho e da esposa

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