Parece ser cada vez mais frequente haver entre nós uma estranha propensão para a crítica à Igreja Adventista do Sétimo Dia como organização e entidade. Qualquer pequeno ou grande motivo é logo razão para o início de uma cruzada, individual ou coletiva, contra aquela que sempre soubemos ser e reconhecemos como a Igreja de Deus para este tempo. Antes de mais nada, devemos compreender a diferença entre duas críticas diferentes: (a) a primeira será perceber que certamente existem membros que assumem um comportamento errado diante de determinadas circunstâncias ou fatores (neste caso, entenda-se crítica como avaliação); (b) a outra será criticar a Igreja Adventista em si, questionando suas doutrinas, seus princípios e até mesmo sua importância escatológica. O que importa aqui nesta reflexão é a crítica à instituição e não ao comportamento particular dos membros.
Tentando exemplificar um pouco, as acusações que se levantam contra a Igreja podem ser de âmbitos diferentes: (a) genericamente, somos acusados de ter jesuítas infiltrados (confira aqui), de fazer pactos secretos com a Igreja Católica, de participar dos movimentos ecumênicos e do Concílio Mundial de Igrejas, etc.; (b) em casos específicos, a queixa é sobre doutrinas ou escritos de Ellen White que foram propositadamente alterados, pastores que estão em apostasia, o uso do dízimo, a natureza do Espírito Santo, etc.
Regra geral, quem são os críticos à instituição Igreja Adventista do Sétimo Dia? Se estivermos minimamente atentos, vamos perceber que eles assumem caraterísticas normalmente muito semelhantes e repetitivas, que nos permitem identificar um padrão:
- Membros insatisfeitos com o estado da Igreja (o que, por si só, não é mau) ou com as lideranças.
- Membros que não são capazes de discernir entre o que é a Igreja como corpo e o comportamento individual das pessoas como membros.
- Membros que mantêm e não resolvem conflitos internos.
- Membros que, mesmo inconscientemente, pretendem justificar seu próprio mau proceder com os erros da Igreja.
- Membros que se julgam portadores de uma importante revelação que entendem como fundamental e imprescindível para reformar e reavivar a Igreja.
- Membros mais atentos aos problemas do que às soluções – gastam muito tempo na crítica e pouco ou nada em estudos bíblicos, distribuição de literatura ou até mesmo em colaborar nas funções da Igreja.
Infelizmente, as pessoas que assumem uma postura deste tipo – apontar erros e fazer nada mais do que isso, sugerir corrupção em tudo o que veem, declarar apostasia por tudo e por nada – geralmente acabam por se afastar da fé e/ou da comunidade de crentes, ficando a pairar sobre si mesmos sem saber ao certo o que mais fazer e para onde ir. Temos observado que em todos os casos aqueles cujo “ministério” consiste em criticar a Igreja, normalmente de forma gratuita e sem intenção de construir ou corrigir positivamente, quase sempre se perdem pelo caminho – de críticos experientes, rapidamente se tornam em apóstatas intransigentes.
Ellen White avisou acerca do que esse procedimento provoca ao próprio Deus: “Coisa alguma neste mundo é tão preciosa para Deus quanto Sua igreja. Coisa alguma é por Ele guardada com tão cioso cuidado. Coisa alguma ofende tanto ao Senhor quanto um ato que prejudique os que Lhe estão fazendo o serviço. Ele chamará a contas todos quantos ajudam Satanás em sua obra de criticar e desanimar” (Conselhos Para a Igreja, p. 253).
E se olharmos um pouco mais para trás em nossa história até aos dias de hoje, vamos verificar que, em todos os casos, no meio da crítica e por vezes ataque severo à Igreja Adventista, não conseguimos discernir uma pessoa ou grupo que, lançado nessa empreitada contra a Igreja, tenha prevalecido seriamente e tenha mostrado provas concretas da direção de Deus.
Por outro lado – ainda que alguns de seus integrantes, incluindo membros e líderes, já pareçam ter caído até às portas do inferno –, criticada e acusada, a Igreja como entidade, mantém-se firme, seguindo em frente e para cima. Pode ser que tenha – e certamente tem – muitos percalços pelo caminho; mas não é por isso que ela deixa de avançar.
Quero com isso dizer que a Igreja é inatacável e está numa espécie de condição papal, acima de qualquer crítica? Bom, devemos perceber melhor o que entendemos como Igreja: (a) se estivermos falando de Igreja como sendo o conjunto de crentes, temos muitas razões para parar e rever comportamentos, como sugeri antes; (b) se estivermos falando de Igreja como sendo o conjunto das suas doutrinas, princípios, valores, mensagem e missão, podemos ter certeza de que criticar a Igreja é lutar contra o próprio Deus.
Aliás, a Bíblia faz menção a isso por meio da afirmação de Gamaliel: “E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará. Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus” (Atos 5:38, 39).
Ainda assim, se houver motivo de reparo e retificação na Igreja, faça-o imediatamente para advertir, recuperar, construir, até mesmo repreender; mas nunca para condenar, ferir e prejudicar a Igreja que Deus mantém sobre a terra.
Veja a advertência que temos de Ellen White a esse respeito: “Sejam todos cuidadosos para não clamarem contra o único povo que está cumprindo a descrição dada do povo remanescente, que guarda os mandamentos de Deus e tem a fé em Jesus” (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 50, 58).
Todos reconhecemos que há problemas na Igreja, disso não temos a mínima dúvida; mas, quando se começa a atacar a Igreja em si, aquilo que de mais basilar a Igreja comporta, seus mais nucleares fundamentos, confesso que, se Deus me der vida e capacidade, defenderei esta Igreja até ao limite de todas as minhas forças.
Conclusão, nas palavras de Ellen White: “Deus tem uma igreja, um povo escolhido; e pudessem todos ver como eu tenho visto, quão intimamente Cristo Se identifica com Seu povo, não se ouviria uma mensagem como essa que denuncia a igreja como Babilônia. Deus tem um povo que é Seu coobreiro e este tem avançado em frente, tendo em vista a Sua glória. Ouvi a oração de nosso representante nos Céus: ‘Pai, aqueles que Me deste, quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a Minha glória.’ Como o Chefe divino almejava ter Sua igreja consigo! Com Ele haviam comungado em Seus sofrimentos e humilhação, e é a Sua mais elevada alegria tê-los consigo, para serem participantes de Sua glória. Cristo reclama o privilégio de ter Sua igreja consigo. ‘Quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo.’ Tê-los consigo, está de acordo com o concerto da promessa e o pacto feito com Seu Pai. Reverentemente, apresenta Ele, no trono da graça, a consumada redenção para Seu povo. O arco da promessa circunda nosso Substituto e Penhor ao lançar Sua amorável petição: ‘Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a Minha glória.’ Contemplaremos o Rei em Sua beleza e a igreja será glorificada” (A Igreja Remanescente, p. 16).
(Filipe Reis é evangelista leigo no Ministério Fé & Evidências, em Portugal: www.fe.pt)