Quando uma ideia se torna heresia

bibliaA pessoa descobre uma suposta “nova verdade”, uma suposta “nova luz”. Passa a dedicar tempo para estudar o assunto a tal ponto que se vê absorvida por ele. Só pensa nisso. Só fala disso. Ela então resolve apresentar o resultado de suas pesquisas para outras pessoas. Algumas delas, mais experientes, apontam erros e inconsistências. Mas o portador da “nova luz” não se importa com isso. Desconsidera a opinião dos outros, inclusive a dos líderes. Fica claro que as ideias que ela vem apresentando ou parte delas estão em desacordo com as doutrinas bíblicas da igreja, mas essa pessoa segue pregando assim mesmo. Com o tempo, criam-se facções. Um grupo se forma em torno da tal “nova luz” e passa a acusar os líderes da igreja e olhar com suspeita aqueles que antes eram considerados irmãos. O grupo se afasta da igreja e começa a pregar para as ovelhas menos experientes e mais frágeis do rebanho e para os biblicamente despreparados. Tornam-se verdadeiros pescadores de aquário. Pronto. Está criada uma nova dissidência. Está criada uma nova heresia. E a estratégia do inimigo vai dando certo, ou seja: dividir para conquistar. A única vantagem nisso tudo é que essas falácias motivam o povo de Deus a pesquisar mais a Bíblia em busca da verdade.

Em tempos de internet, muitas heresias antigas voltam à tona e várias delas convivem simultaneamente, dando grande trabalho para os apologetas e defensores da fé. Assim, infelizmente, o tempo e as energias que poderiam estar sendo dedicados à pregação do evangelho acabam sendo desperdiçados para “apagar fogueiras” de dissidência e para vacinar os incautos e inexperientes contra ideias equivocadas. Recomendo a leitura do artigo “A igreja e seus críticos”, do Dr. Alberto Timm, publicado na Revista Adventista de abril de 2005. Você pode encontrá-lo no site www.revistaadventista.com.br, na seção “Acervo”. Nele o Dr. Timm descreve o perfil dos críticos e originadores de dissidências e heresias.

Uma dessas heresias ensina que Jesus não é Deus, que os Espírito Santo não é uma pessoa e que a Trindade não é um conceito bíblico. Os que defendem essa ideia acabam rebaixando Jesus de Sua posição de Criador e Salvador todo-poderoso, um esforço iniciado no Céu por Lúcifer, quando de sua rebelião. Os antitrinitarianos também ignoram a personalidade e a divindade do Espírito Santo, dando assim as costas Àquele que poderia levá-los a toda a verdade, como disse Jesus em João 16:13. Se essas pessoas apenas se contentassem em guardar para si essas ideias e as estudassem com oração, responsabilidade, humildade e maturidade… mas não. Pregam esse assunto por aí de maneira inconsequente, causando divisão, criando amargura e contrariando a oração de Jesus em João 17. Esse geralmente é o fruto do trabalho dos hereges, e pelos frutos se conhece uma árvore. Deixarei logo abaixo deste texto vários links com materiais sobre a Trindade.

Além da Trindade, há também a heresia do “perfeccionismo”, que não pode nem deve ser confundido com zelo santo e desejo de obedecer à vontade de Deus. Os perfeccionistas colocam o foco na sua própria vida supostamente santa e de obediência, esquecendo da graça e do poder que Deus confere aos que querem viver uma vida realmente santa, embora imperfeita. Passam o dia falando e postando sobre pecado, perfeição de caráter, vestuário, dieta cada vez mais restritiva e coisas afins. Parece que querem sempre descobrir novos mandamentos para tentar obedecer e impor aos outros, criando, na verdade, um fardo insuportável de regras e mais regras que acabam ofuscando Jesus, a graça e a verdade de que ainda prosseguimos para o alvo, e que nunca poderemos bater no peito alegando uma suposta impecabilidade.

Esses perfeccionistas e legalistas chegam ao ponto de condenar a igreja, seus líderes e promover uma obra paralela, mais uma vez dividindo o rebanho e pulverizando os esforços que deveriam ser concentrados. A Igreja Adventista promove o Impacto Esperança, com distribuição de milhões de livros, eles vêm no encalço e promovem o impacto qualquer coisa, afirmando que o livro deles é melhor, que o trabalho deles é o correto. Sou coautor do livro missionário deste ano e não o considero melhor do que qualquer outro livro da igreja, mas de uma coisa eu sei: orei muito para escrevê-lo e procurei colocar nele as principais doutrinas bíblicas adventistas. A Palavra de Deus está ali e fico muito feliz em ver a igreja unida e milhões de irmãos indo às ruas para distribuir essa mensagem. Você acha que Satanás está feliz com isso? Você acha que o dragão ficaria quietinho enquanto as folhas de outono são espalhadas?

O que alguns desses dissidentes desalinhados com a igreja e opositores dela mais fazem é criticar, e chegam ao ponto de se apropriar de nomes históricos de projetos e movimentos da igreja. Autointitulam-se “remanescentes”, “pioneiros”, “históricos”, “missionários voluntários” (o antigo nome que a igreja adventista oficialmente deu ao Departamento de Jovens), e por aí vai. Deus tem uma séria mensagem para essas pessoas, e eu vou mencioná-la mais adiante.

A novidade do momento é uma ideia absurda que nem doutrina é, mas que se espalha entre alguns adventistas e que daqui a pouco não é de se estranhar que também vire heresia, pois já vem causando divisão. Trata-se da tal “teoria” da Terra plana. Já postei vídeos e escrevi textos sobre isso, e deixarei os links aí abaixo. Portanto, não vou argumentar aqui em favor da Terra esférica. Quero é chamar a atenção para o extremo a que chegam alguns pregadores de absurdos.

Certo canal no YouTube que usa o nome “adventista” enviou meu vídeo “Adventistas terraplanistas?” para um rapaz dono de um canal terraplanista que me pareceu evangélico, ou algo assim. Os supostos adventistas pediram que essa pessoa rebatesse minhas afirmações. Como era de se esperar, num vídeo de quase duas horas, o indivíduo usa argumentos furados, faz afirmações sem cabimento, como a de que não sabemos se a Terra é exatamente um disco tipo pizza, pois ninguém ainda fotografou a parte de baixo (!), e me dirige acusações, num típico exemplo ad hominem, que revela a fragilidade dos argumentos, já que o certo é discutir ideias, não atacar pessoas.

Mas esses supostos adventistas acabaram levando um tapa na cara: o terraplanista termina seu vídeo criticando o sábado e as regras dietéticas dos adventistas, desviando totalmente o assunto. É nisso que dá cutucar a onça com vara curta. Nem sempre o inimigo dos meus inimigos é meu amigo. Mas eu não quero mal a nenhum deles. O que faço é orar para que Deus lhes abra os olhos e vejam o tremendo desserviço que estão prestando ao cristianismo e ao criacionismo.

Se essas pessoas que me acusaram perante um não adventista são realmente adventistas, deveriam dar atenção à recomendação de Ellen White. Em duas ocasiões ela disse ter-se encontrado com adventistas que defendiam a teoria da Terra plana, isso lá no século 19. Ela não entrou em debates sobre o formato da Terra, mas tentou mostrar como essa questão era insignificante diante da mensagem bíblica a ser anunciada pelos adventistas: “Quando uma vez certo irmão se chegou a mim com a mensagem de que o mundo é plano, fui instruída a apresentar a comissão que Cristo deu aos discípulos: ‘Ide, ensinai todas as nações, […] e eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos’ (Mateus 28:19, 20). Quanto a assuntos como a teoria de que o mundo é plano, Deus diz a toda alma: ‘Que te importa? Quanto a ti, segue-Me [João 21:22]. Tenho-lhes dado sua comissão. Insistam sobre as grandes verdades probantes para este tempo, não sobre assuntos que não têm relação com nossa obra’” (Obreiros Evangélicos, p. 314).

Mas essas declarações não significam que Ellen White não tivesse uma posição definida sobre o assunto. Em 1900, ela escreveu: “Deus fez o Seu sábado para um mundo esférico; e, quando o sétimo dia chega para nós neste mundo arredondado, controlado pelo Sol, que governa o dia, em todos os países e regiões é o tempo para observar o sábado. […] O sábado foi feito para um mundo esférico, sendo, portanto, requerida obediência das pessoas em perfeita harmonia com o mundo criado pelo Senhor” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 317).

Sabe, ainda que os adventistas antitrinitarianos, perfeccionistas e terraplanistas tivessem razão, coisa que não têm, o conselho de Ellen White é que, quando a liderança da igreja e os irmãos mais experientes não pensam da mesma forma, os defensores da “nova luz” devem ter humildade para aguardar tranquilos que Deus dirija as coisas, e não tomem nas mãos as rédeas de uma suposta reforma. Claro que isso não significa ficar de braços cruzados diante de erros e injustiças, mas ter bom senso e equilíbrio para saber como e quando agir.

É bom lembrar e enfatizar que o púlpito não deve ser usado para pregar ideias que não sejam assunto pacífico para a igreja. Pastores e anciãos não devem permitir que esses aventureiros inconsequentes prejudiquem o rebanho com pasto contaminado. Deus está guiando um povo, não grupos aqui e ali. Aliás, sempre vale a pena recordar as advertências divinas contra quem chama a igreja adventista de Babilônia, contra quem volta as armas em direção à menina dos olhos de Deus, contra quem se esquece de que, embora haja problemas e erros entre o povo do Senhor, Ele vai consertar tudo. Se você é adventista, deve conhecer esses textos. Se não conhece, vá atrás o mais rápido possível!

Gosto de meditar na atitude de Josué e Calebe, quando voltaram da missão de espiar a terra prometida. Diferentemente dos demais espias covardes e críticos, Josué e Calebe tentaram exaltar o poder e a vontade de Deus para Seu povo. Não teve jeito. Os murmuradores venceram e nós conhecemos o resultado disso: o povo hebreu teve que voltar para o deserto e esperar mais alguns anos antes de poder entrar em Canaã. Josué e Calebe poderiam ter dito: “Esse povo rebelde que fique no deserto! Nós vamos para a terra prometida.” Mas não. Eles permaneceram com o povo. Não abandonaram a igreja nem passaram a criticá-la. Moisés partiu as tábuas, mas não abandonou a igreja. Jeremias escreveu as lamentações, mas não abandonou a igreja. Daniel orou pelo seu povo em cativeiro, mas não abandonou a igreja.

Devemos ter o mesmo espírito. Obviamente que reconhecemos que a igreja é defeituosa, afinal, ela é formada por seres humanos defeituosos como você e eu, mas não é por isso que ela deixa de ser a “menina dos olhos” de Deus, a esposa do Cordeiro que atrai a ira satânica. E se Deus a ama, eu também vou amá-la, permanecer nela e fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar meus irmãos de fé a cumprir a missão que Deus confiou a essa igreja “débil e defeituosa”, mas que mora no coração do Pai.

Estude profundamente sua Bíblia, mantenha comunhão com Jesus, prepare-se para enfrentar os ventos de doutrina e permaneça no barco que levará o povo de Deus até o porto seguro.

Michelson Borges

A divindade de Jesus em Eclesiastes 12:7

Afinal, quem é Jesus Cristo?

O pairar do Espírito de Deus

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O dia longo de Josué.